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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

LUA CHEIA

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nas palavras lavo os panos tristes
que ao fim de uma estação retêm agora
a sensação dos dias, o lume dos passos.
.
sinto que é um outro tempo,
um outro jeito de dobrar esquinas,
um outro modo de pisar a terra
- é tudo isto comprimido num pulso,
cingido dentro de veias como pequenas vozes
mudadas em canções ao acordar do ano.
.
vem, vem comigo, neste magnífico nascimento,
ouvir bater a espuma no cinzento das rochas,
e deixar passar as horas como quem flutua
à tona do tempo, inteiramente mergulhado no mundo
- vem dormir sob o luminoso manto da lua cheia.
.
hei-de dizer-te um dia
como se escolheu a cor do mar.

 

Vasco Gato, Um Mover de Mão

LUA CHEIA

 

nas palavras lavo os panos tristes
que ao fim de uma estação retêm agora
a sensação dos dias, o lume dos passos.
.
sinto que é um outro tempo,
um outro jeito de dobrar esquinas,
um outro modo de pisar a terra
- é tudo isto comprimido num pulso,
cingido dentro de veias como pequenas vozes
mudadas em canções ao acordar do ano.
.
vem, vem comigo, neste magnífico nascimento,
ouvir bater a espuma no cinzento das rochas,
e deixar passar as horas como quem flutua
à tona do tempo, inteiramente mergulhado no mundo
- vem dormir sob o luminoso manto da lua cheia.
.
hei-de dizer-te um dia
como se escolheu a cor do mar.

 

VASCO GATO, Um mover de mão.

Se alguém disser - Vasco Gato

se alguém disser que morri, avança até à varanda do céu,
escuta a noite e recolhe o  meu corpo da espuma dos planetas.
não deixes que o meu rosto se dissolva nas tuas mãos,
insiste no meu nome até que o mar ascenda à tua boca.
e de luar em luar celebra o coração que fiz teu, mudamente,
como se o amor fosse sobreviver às veias paradas de sangue.

 

Vasco Gato, «Um Mover de Mão»

UM DIZER AINDA PURO

 
imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonamos a flor.
 
dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.
 
diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.

Vasco Gato