Espectáculo a quatro vozes, ou mãos, ou mentes em termos de encenação e a muitas mais em termos de interpretação. Quatro andamentos sobre um tema: o fim. Quatro criadores da Guarda. Quatro encenações da Guarda.
Quatro. Número sombólico dos elementos da vida para falar de uma tema da vida. Pouco simpático, mas real. Percepções diferentes de uma mesma realidade.
Gostei dos quatro em diferente medida. Do texto do primeiro, da encenção do segundo, da poesia do terceiro e da representação do quarto. O texto do Daniel foi o que me disse mais porque misturou na justa medida elementos literários de proveniência vária. A actualidade é bem evidente e os dois actores souberam apropriar-se das palavras e significá-las. O segundo atraiu-me mais pela música expressiva e sedutora, mas a simplicidade do cenário e a voz potente completaram-se. O terceiro disse-me mais pela poesia, difícil de encenar, difícil de representar ( o João Neca esteve bem!). Finalmente a quarta história destacou-se-me pela representação. Já há muito não contactava com Antº Patrício (não gosto particularmente do seu teatro), mas a encenação esteve bem e a representação foi a cereja no cimo do bolo deste espectáculo!
Sábado, dia 4 de Setembro, começa a nova temporada do Teatro Municipal da Guarda e começa também o Acto Seguinte- Festival de Teatro da Guarda com o espectáculo "Uma família portuguesa". Uma peça premiada em 2008 pela Sociedade Portuguesa de Autores, da autoria de Filomena Oliveira e Miguel Real. O espectáculo tem encenação de Cristina Carvalhal e reúne vários actores bem conhecidos do público como Bruno Simões, Carlos Malvarez, João Maria Pinto, Luisa Salgueiro e Teresa Faria. A sessão apresenta-nos uma família portuguesa composta por três gerações. A casa onde habitam era propriedade do falecido patriarca de cuja presença não se conseguem libertar. Integrando referências musicais, literárias e plásticas da segunda metade do século XX, Cristina Carvalhal convoca um imaginário com o qual todos os portugueses se poderão identificar. “Uma Família Portuguesa” é um espectáculo que fala da ditadura, da guerra colonial ou da devoção a Nossa Senhora de Fátima, tão presentes ainda na nossa memória colectiva. O espectáculo está marcado para o Grande Auditório, às 21h30.
"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."
Sobre Vicente Sanches, autor da peça, escreveu Manuel Poppe:
“Há quase 50 anos que Vicente Sanches publica livros, principalmente peças de teatro. Algumas já foram encenadas, com êxito; mas Vicente Sanches é o mais desconhecido dos escritores portugueses. Não sei explicá-lo. (…) Não sei porquê – por que se viram as costas a um dos melhores autores de língua portuguesa.
(…) Os textos de Vicente Sanches confirmam aquilo que penso: a sua actualidade. Sanches é um escritor religioso, um escritor católico –um escritor metafísico, que quer ver aquilo que está além do físico. O físico não passará do envelope do essencial, tal qual “a materialidade literária da Escritura”, como Sanches sublinha a propósito da Kaballa judaica. “
Se o teatro é vida, a vida é um teatro. Comédia, tragédia, se calhar, a maior parte das vezes tragicomédia. Estereotipos de vidas avulsas com a finalidade - já o dizia Aristóteles - de fazer esquecer as desgraças, com uma função catártica. Seis actores em palco percorrendo vidas avulsas algures na Alemanha que também pode ser a Guarda. Estiveram bem e o maior elogio e a maior ovação - eles não se aperceberam - foi de um petiz de palmo e meio, logo na fila B, que se riu e fez comentários fantásticos ao longo da representação: a inocência a rir-se das doideiras dos adultos! Temos grupo, vamos estar de tento no olho!
Agosto foge apressado nos últimos dias: já fugiu o iodo das praias e volta abrasador o quente ar da Serra. Recuperaram-se energias e, agora, há que retomar o esforço diário e esperar que Setembro refresque!!! Os barcos vogando ao longe arrastam com eles a esperança de mais uns dias à beira-mar e lembram que o prosaísmo do tempo é mais forte que os sonhos do Verão. Sendo assim resta-nos regressar à poesia e ... ao TEATRO. Bom regresso!