A. Monteiro da Fonseca
O nosso mundo é nosso apenas de passagem,
Curta paragem, só viver-se,
E ser-se de fugida
E o tema é sempre... sempre ...
A luta pela vida!...
A. Monteiro da Fonseca, Horas de Reflexão
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O nosso mundo é nosso apenas de passagem,
Curta paragem, só viver-se,
E ser-se de fugida
E o tema é sempre... sempre ...
A luta pela vida!...
A. Monteiro da Fonseca, Horas de Reflexão
Se pudesse escrevia um poema sem palavras.
As palavras não existem. Já nada dizem
Do que antes era. Antes
Quando o medo era sombra inexistente
E era possível aos homens falar de amor.
Agora há só o espantalho do medo,
As bocas negras, a fome negra,
E o uivo dos cães mudos nas noites desertas e distantes.
Antes havia feras e cristão para as feras.
Agora, ou porque tudo são feras,
Ou porque já não há cristãos
(E há só o medo, o pavor, a fome,
As cumplicidades carnais ao topo dos ventos,
E o ridículo de se ter medo: o pasto das trevas)
A semente de Deus anda à deriva sem leira onde se acoite.
- Espuma, sonho, aurora, canto? - palavras ausentes.
No galeão da vida, haverá de novo bodas de sangue
Para que do Mar volte para a Terra
O viço e a alegria das novas sementes.
Vasco Miranda, A Vida Suspensa
(Sabugal, 1943 - Porto, 2012)
A morte e a vida morrem
e sob a sua eternidade fica
só a memória do esquecimento de tudo;
também o silêncio de aquele que fala se calará.
Quem fala de estas
coisas e de falar de elas
foge para o puro esquecimento
fora da cabeça e de si.
O que existe falta
sob a eternidade;
saber é esquecer, e
esta é a sabedoria e o esquecimento.
"Aquele que Quer Morrer"
No dia 7 de Julho, pelas 16 horas, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, na Guarda será apresentado este livro do poeta guardense Daniel Rocha.
Parece que aqui o escriba está a internacionalizar-se! Um texto escrito para a Praça Velha sobre o livro "A espuma dos dias úteis" do nosso conterrâneo Cristno Cortes foi publicado na revista internacional de teatro e poesia "ALHUCEMA". (Pode ser lido aqui a páginas 145/146.)
Obrigado ao poeta Cristino Cortes pela indicação.
(À minha mãe)
Rompeste com as montanhas
e atravessaste as tempestades
com o intelecto de alguém
que procura na imensidão
dos dias uma justificação
para andar.
Procuraste nas entrelinhas
das sensações e das ilusões
uma razão para nos trazeres
vestidos e aprumados
para as agruras da vida
que não conseguias evitar.
Da fome e das carências soubeste
tirar o melhor
e, interiorizando a coragem,
cresceste com a energia do ar e das flores
multiplicaste a força e a vontade
e distribuíste a graciosidade e a beleza.
Enfim, percorreste os desertos
e encontraste as miragens
reais numa complexa matriz
de dor e suor e sangue e esperança.
(a Manuel António Pina)
Alimenta-te da rosa!
Busca-a incessantemente
Perscrutando montes
E ribeiros
E até algumas
Lixeiras.
Coloca-a na grosa
Afinando as suas
Curvas petalares
E multiplicando
Os seus ais.
Relembra-lhe a
Infância, semente
De tempos perdidos
Envolta em manto
Morto e
Nauseabundo.
Então, talvez...
Nota que a sua beleza
Passa, rápida e mutável,
E a tua solidifica,
Onde ninguém a vê!
(20/01/2010)
nunca cheguei a escrever um poema sobre
a cidade ser à noite um carrossel
de luzes. nem outro sobre
a fotografia onde fiquei com ar
envergonhado. ou sobre o frio e
o passeio por Hyde Park, onde
pássaros vieram comer às tuas mãos
e eu deixei fugir alguns versos
só para te poder fotografar. ou sobre
a casa estilo vitoriano, que prometeu
ocultar todas as palavras que dissemos
um ao outro, quando ao deitar
nos encolhíamos debaixo de
vários cobertores e mesmo assim
tínhamos frio. ou o definitivo,
aquele que falaria sobre Greenwich
e o meridiano que me ensinou a importância
do tempo que sempre falta, principalmente
quando numa das pontes quis dizer amo-te,
mas havia um autocarro para
apanhar. e era já o último.
manuel a. domingos in mapa