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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Já não ...

Já não se encantarão meus olhos em teus olhos,
já não se achará doce minha dor a teu lado.

 

Mas por onde eu caminhe levarei o teu olhar
e para onde tu fores levarás minha dor.

 

Fui teu, foste minha. Que mais? Juntos fizemos
um desvio na rota por onde o amor passou.

 

Fui teu, foste minha. Tu serás de quem te ame,
Do que corte em teu horto aquilo que eu plantei.

 

Eu me vou. Estou triste: mas eu sempre estou triste.
Eu venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

 

…Desde teu coração diz adeus um menino.
E eu lhe digo adeus.

 

Pablo Neruda.

O Teu Riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda

Te amo - Pablo Neruda

Te amo, 

te amo de una manera inexplicable, 

de una forma inconfesable, 

de un modo contradictorio.

 

Te amo 

con mis estados de ánimo que son muchos, 

y cambian de humor continuamente. 

por lo que ya sabes, 

el tiempo, la vida, la muerte.

 

Te amo... 

con el mundo que no entiendo,

con la gente que no comprende,

con la ambivalencia de mi alma, 

con la incoherencia de mis actos, 

con la fatalidad del destino, 

con la conspiración del deseo, 

con la ambigüedad de los hechos.

 

Aún cuando te digo que no te amo, te amo, 

hasta cuando te engaño, no te engaño, 

en el fondo, llevo a cabo un plan, 

para amarte mejor.

 

Te amo... 

sin reflexionar, inconscientemente, 

irresponsablemente, espontáneamente, 

involuntariamente, por instinto, 

por impulso, irracionalmente.

 

En efecto no tengo argumentos lógicos, 

ni siquiera improvisados 

para fundamentar este amor que siento por ti, 

que surgió misteriosamente de la nada, 

que no ha resuelto mágicamente nada, 

y que milagrosamente, de a poco, con poco y nada 

ha mejorado lo peor de mí.

 

Te amo,

te amo con un cuerpo que no piensa, 

con un corazón que no razona, 

con una cabeza que no coordina.

 

Te amo 

incomprensiblemente,

sin preguntarme por qué te amo, 

sin importarme por qué te amo, 

sin cuestionarme por qué te amo.

 

Te amo 

sencillamente porque te amo, 

yo mismo no sé por qué te amo.

 

Pablo Neruda

ME GUSTAS CUANDO CALLAS - Pablo Neruda


Me gustas cuando callas porque estás como ausente, 

y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca. 

Parece que los ojos se te hubieran volado 

y parece que un beso te cerrara la boca. 

Como todas las cosas están llenas de mi alma 

emerges de las cosas, llena del alma mía. 

Mariposa de sueño, te pareces a mi alma, 

y te pareces a la palabra melancolía. 

Me gustas cuando callas y estás como distante. 

Y estás como quejándote, mariposa en arrullo. 

Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza: 

déjame que me calle con el silencio tuyo. 

Déjame que te hable también con tu silencio 

claro como una lámpara, simple como un anillo. 

Eres como la noche, callada y constelada. 

Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo. 

Me gustas cuando callas porque estás como ausente. 

Distante y dolorosa como si hubieras muerto. 

Una palabra entonces, una sonrisa bastan. 

Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Os teus pés

Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.

 

Pablo Neruda

Amor, quantos caminhos - Pablo Neruda

 

Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos, com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos.

 

[Nome literário de Neftalí Ricardo Reyes.(1904–1973) Chileno. Prémio Nobel de Literatura em 1971.]