Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Natal

Natal é dentro de nós -

o de dentro é que é belo –

Basta sabermos dar voz

A toda verdade e anelo!

 

Natal é dar-se ao semelhante

Seguir o exemplo do Melhor,

Viver sempre cada instante

No seu máximo esplendor.

 

Natal é sermos genuínos

Dar ao próximo alegria

Voltarmos a ser meninos

Não apenas num só dia.

 

Enfim, celebremos com amor

O bom que cada um tem;

Façamos de nossas casas

O presépio humilde de Belém!

 

J M (Natal de 2020)

...

Natal.jpg

Boas Festas para os leitores do que por aqui vou pondo! Com Miguel Torga, claro! Votos de boa companhia da família e de um bom Natal na paz e na alegria do Nascimento!

 

NATAL DIVINO

Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.

 

O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar…
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar…

 

 Miguel Torga (1907-1995)

 

BOM NATAL E FELIZ ANO NOVO a todos os que frequentam este recanto!

NATAL DOS HOMENS

 

 

 

Todos os anos, Jesus

Feito criança, menino,

Transforma a terra em flor.

E em poucos dias, no mundo,

Os homens vivem unidos,

Falando apenas de amor.

 

Mas, quando o Natal acaba

E os dias são como os outros

Nas cidades e na serra,

Durante o resto do ano

Os homens, já desavindos,

Apenas falam da guerra.

 

E assim decorrem os anos

Nesta atroz contradição:

 – Os homens, podendo amar-se,

Morrem de armas na mão!..

 

 

João Patrício


[Aproveito para desejar a todos os frequentadores deste recanto pessoal umas óptimas Festas de Natal e um 2013 cheio de poesia e saúde. Que nunca falte a vontade de mudar o mundo!]

Festas Felizes!

 

 

S. Martinho de Anta, 24 de Dezembro de 1969.

 

LOA

 

É nesta mesma lareira,

E aquecido ao mesmo lume,

Que confesso a minha inveja 

De mortal

Sem remissão

Por esse dom natural,

Ou divina condição,

De renascer cada ano,

Nu, inocente e humano

Como a fé te imaginou,

Menino Jesus igual

Ao do Natal

Que passou.

 

Torga, Diário 

 

 

[A todo os amigos, conhecidos, transeuntes, amantes de poesia, ... desejo um


BOM NATAL

 

 

 

e um


2012

 

 

 

cheio de


FELICIDADES!]

 

NATAL (José Régio)

[retirado de: www.oracaovirtual.com.pt/.../presepio.jpg]

 

Com este poema termino a homenagem que nestes dias fiz ao grande escritor José Régio e aproveito para desejar a todos os amigos e frequentadores deste "sítio" um

Santo Natal

cheio de paz e harmonia.

 

  

 
 
Nascença Eterna,
Nasce mais uma vez!
Refaz a humílima Caverna
Que nunca se desfez.
 
Distância Transcendente,
Chega-te, uma vez mais,
Tão perto que te aqueças, como a gente,
No bafo dos obscuros animais.
 
Os que te dizem não,
Os épicos do absurdo,
Que afirmarão, na sua negação,
Senão seu olho cego, ouvido surdo?
 
Infelizes supremos,
Com seu fracasso alcançam nomeada,
E contentes se atiram aos extremos
Do seu nada.
 
Da nossa ambiguidade,
Somos piores, nós, talvez,
E uns e outros só vemos a verdade,
Que, Verdade de Sempre, tu nos dês.
 
Se nada tem sentido sem a fé
No seu sentido, Sol que não te apagas,
Rompe mais uma vez na noite, que não é
Senão o dia de outras plagas.
 
Perpétua Luz, Contínua Oferta
À nossa escuridade interna,
Abre-te, Porta sempre aberta,
Mais uma vez, na humílima Caverna.
 
Dezembro de 1964
 
Diário de Notícias

NATAL - José Régio

 

Mais uma vez, cá vimos

Festejar o teu novo nascimento,

Nós, que, parece, nos desiludimos

Do teu advento!

 

Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!

Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,

Festejar-te, ─ do fundo

Da miséria que somos.

 

Os que à chegada

Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,

Somos ─ não uma vez, mas cada ─

Teus assassinos.

 

À tua mesa nos sentamos:

Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;

Mas por trinta moedas te entregamos;

E por temor, negamos o teu nome.

 

Sob escárnios e ultrajes,

Ao vulgo te exibimos, que te aclame;

Te rojamos nas lajes;

Te cravejamos numa cruz infame.

 

Depois, a mesma cruz, a erguemos,

Como um farol de salvação,

Sobre as cidades em que ferve extremos

A nossa corrupção.

 

Os que em leilão a arrematamos

Como sagrada peça única,

Somos os que jogamos,

Para comércio, a tua túnica.

 

Tais somos, os que, por costume,

Vimos, mais uma vez,

Aquecer-nos ao lume

Que do teu frio e solidão nos dês.

 

Como é que ainda tens a infinita paciência

De voltar, ─ e te esqueces

De que a nossa indigência

Recusa Tudo que lhe ofereces?

 

Mas, se um ano tu deixas de nascer,

Se de vez se nos cala a tua voz,

Se enfim por nós desistes de morrer,

Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!

 

 

 

Diário de Notícias, edição nº 33 345, de 25 de Dezembro de 1958 

NATAL

 

O NATAL
 
O Menino está deitado,
Entre as radiações dum halo,
Num loiro feixe de palha;
E uma vaquinha, ao seu lado,
Acerca-se a bafejá-lo
E mornamente o agasalha.
 
Para o filhinho tão lindo,
Numa expressão em que luz
O seu enlevo de mãe,
A Senhora está sorrindo...
Na boquinha de Jesus
Paira um sorriso também...
 
Este Natal de Jesus
Há dois séculos que o fez,
Com barro mole, um oleiro.
Verdade não a traduz;
Mas, por ser tão português
— É para nós verdadeiro...
 
No grande átrio, todo em ruínas,
Dum palácio pombalino,
Em cuja frente se vê
O nobre escudo das quinas,
Estão, a um canto, o Menino
E a Senhora e São José.
 
São José tem na cabeça
Um largo chapéu braguês
Derrubado para os olhos;
E a Virgem Maria, essa,
Tem chinelinhas nos pés
E veste saia de folhos...
 
Com as mãos no coração,
Com o olhar cristalino
Em que há lágrimas e sóis,
São José, cheio de unção,
Fita a Mãe, mira o Menino
— E sorri-se para os dois...
 
Um anjo de asas nevadas,
De formas finas e puras,
Este dístico descerra
Das suas mãos delicadas:
Glória a Deus nas alturas
E paz aos homens na terra!
 
Vêm, pela estrada fora,
Três monarcas em três bravos,
Infatigáveis corcéis.
É que está chegada a hora
Dos mais humildes escravos
Se equipararem aos reis...
 
Num duo desconcertante,
Dois cegos vão a tanger,
Nos violões, com gesto lento.
É que chegou o instante
Da pobreza merecer
O prémio do sofrimento...
 
Um coxo de pés cambados
Atira as muletas fora
E a correr, mal pisa o chão.
É que está chegada a hora
Dos tristes, dos desgraçados
— Sentirem consolação...
 
Toca adufe uma pastora
Para mais outras bailarem
Entre ovelhas e lebréus.
É que está chegada a hora
Daquelas que muito amarem
Serem dilectas de Deus...
 
Um petiz faz palhaçadas
Com elástico vigor,
Alegria irreprimida,
E, pelas calças rachadas
Ao longo do sim-senhor,
Vê-se-lhe a fralda saída...
 
É que estão próximas já,
É que já estão vizinhas
As tardinhas comoventes
Em que às turbas pregará
O amigo das criancinhas
Dos corações inocentes...
 
Augusto Gil, Alba Plena

 

 

Com este pouco ortodoxo poema do nosso poeta (mas o Natal dos nossos  tempos também é pouco ortodoxo!!!), aproveito para desejar a todos os passantes e visitadores deste simples blogue uma verdadeira festa de Natal com AMIZADE e um abraço de FRATERNIDADE.