A meu favor tenho o teu olhar testemunhando por mim perante juízes terríveis: a morte, os amigos, os inimigos.
E aqueles que me assaltam à noite na solidão do quarto refugiam-se em fundos sítios dentro de mim quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.
Protege-me com ele, com o teu olhar, dos demónios da noite e das aflições do dia, fala em voz alta, não deixes que adormeça, afasta de mim o pecado da infelicidade.
Tantas voltas o mundo há-de dar Que alguma coisa se há-de aproveitar E se o outro lado pode ser pior Também pode muito bem ser melhor
Virar o mundo de dentro para fora e ver se o mundo assim melhora e se nem assim o mundo melhorar voltá-lo a virar, a virar, a virar. Manuel António Pina
Já que estamos numa de vaidade pessoal - faz bem à auto-estima! - aqui fica mais uma com Manuel António Pina. A contar mais uma das suas muitas histórias.
O nosso Manuel António Pina é o Prémio Camões deste ano, com unanimidade do júri. Poeta, jornalista e autor de saborosas crónicas, natural do Sabugal, está ligado afectivamente à Guarda que há uns anos lhe prestou homenagem.
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A meu favor tenho o teu olhar testemunhando por mim perante juízes terríveis: a morte, os amigos, os inimigos.
E aqueles que me assaltam à noite na solidão do quarto refugiam-se em fundos sítios dentro de mim quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.
Protege-me com ele, com o teu olhar, dos demónios da noite e das aflições do dia, fala em voz alta, não deixes que adormeça, afasta de mim o pecado da infelicidade.
Manuel António Pina, in “Algo Parecido Com Isto, da Mesma Substância”