para o Luís Filipe Cristóvão
Éramos os últimos
no café quando decidimos
regressar.
Os nossos passos — trocados
pela hora a mais que a lei do tempo
impõe — percorreram as ruas
desertas, onde a qualquer momento
esperei ver um coiote
atravessar-se no caminho,
não perguntes porquê.
No hotel entrámos a rir,
a falar alto.
Evocávamos sem saber
as ninfas desse rio Tago
cujo nome soa melhor
em português.
Até que alguém apareceu
e pediu silêncio.
Por qualquer motivo tínhamos esquecido
que a poesia quer-se
a horas decentes.
manuel a. domingos, em Sulscrito, Revista de Literatura, nº 2, Faro: ARCA – Associação Recreativa e Cultural do Algarve, 2008, p. 12.
nunca cheguei a escrever um poema sobre
a cidade ser à noite um carrossel
de luzes. nem outro sobre
a fotografia onde fiquei com ar
envergonhado. ou sobre o frio e
o passeio por Hyde Park, onde
pássaros vieram comer às tuas mãos
e eu deixei fugir alguns versos
só para te poder fotografar. ou sobre
a casa estilo vitoriano, que prometeu
ocultar todas as palavras que dissemos
um ao outro, quando ao deitar
nos encolhíamos debaixo de
vários cobertores e mesmo assim
tínhamos frio. ou o definitivo,
aquele que falaria sobre Greenwich
e o meridiano que me ensinou a importância
do tempo que sempre falta, principalmente
quando numa das pontes quis dizer amo-te,
mas havia um autocarro para
apanhar. e era já o último.
manuel a. domingos in mapa
Soneto #3
Gosto de fazer
a barba enquanto
no duches cantas
um qualquer samba
que sabes de cor
Eu de cor só sei
um ou outro verso
que aprendi na escola
....
[Fica o aperitivo para se ler o resto no livro do amigo manuel.a.domingos. Quem quiser encomendar passe por aqui. ]
manuel a. domingos
Teorias
tiragem única de 100 exemplares
composição, paginação e ilustração de Sérgio Nogueira
Edição de Autor
2011