A MINHA MÃE
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Foi num dia assim de um janeiro distante
que o rio da tua vida brotou.
Da frieza circunstante
apareceu
cresceu
e mais tarde desaguou
noutros cinco rios mais
que hoje te continuam e recordam.
Sem hesitação – houve vários sinais –
unanimemente concordam
que a tua água foi luz
para seus periclitantes cursos.
Amparaste os seus percursos,
aliviaste a sua cruz,
e deste-lhes a vida também.
Obrigado, mãe!
09.01.2015
J M
Assim.
O silêncio, o vazio,
a ausência premente.
Estás, não estando.
Vês, já não te vemos,
mas sentimos-te em nós.
E, nessa voz,
de lembrança, de saudade,
vivemos a ansiedade
da tua partida.
Hoje celebramos-te,
apesar da distância.
Recordamos-te,
e a verdade de ti
permanecerá em nós.
(09.01.1915)
Palavras para a Minha Mãe
mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.
lê isto: mãe, amo-te.
eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
Descansa em paz. Descanso merecido de dever cumprido.
Dantes, quando a deixava,
As férias já no fim,
Ela vinha à janela
Despedir-se de mim.
Depois, quando na estrada,
Olhava para trás,
Deitava-me ainda a bênção
Para que eu fosse em paz.
Dali não se movia,
À vidraça encostada,
Até que eu me perdia
Já na curva da estrada.
Hoje, se olho, calo-me
E baixo os olhos meus!
Já não vem à janela
Para dizer-me adeus!
Alfredo Brochado
[Há 97 anos - obrigado!]
Dizer terra, fecundação, carinho, ...
Dizer ovo, madre, coração, ...
Dizer sémen, cuidado, marinho, ...
Dizer chuva, amor, paixão, ...
Dizer força, prazer, embrião, ...
Dizer húmus, maia, afecto, ...
Dizer coragem, arte, criação, ...
Dizer seio, úbere, tecto, ...
Dizer terra, femina, mulher
Dizer tudo e o princípio também
Dizer aquilo a que mais se quer
É dizer, simplesmente, MÃE!
(JM)
[Seriam 102 - sempre!]
Tu, grande Mãe!... do amor de teus filhos escrava,
Para teus filhos és, no caminho da vida,
Como a faixa de luz que o povo hebreu guiava
À longe Terra Prometida.
Jorra de teu olhar um rio luminoso.
Pois, para batizar essas almas em flor,
Deixas cascatear desse olhar carinhoso
Todo o Jordão do teu amor.
E espalham tanto brilho as asas infinitas
Que expandes sobre os teus, carinhosas e belas,
Que o seu grande dano sobe, quando as agitas,
E vai perder-se entre as estrelas.
E eles, pelos degraus da luz ampla e sagrada,
Fogem da humana dor, fogem do humano pé,
E, à procura de Deus, vão subindo essa escada,
Que é como a escada de Jacó.
Olavo Bilac, in "Poesias"
Essa mulher simples por mim querida
humanamente santa e generosa,
essa senhora tão maravilhosa,
horizonte e fonte da minha vida...
Bela como a aurora,
serena como a brisa,
pronta para servir e acolher,
amar e perdoar, consolar lágrimas
e compartilhar alegrias,
ocupada com seus afazeres
dando bronca com seus sábios dizeres ...
Essa mulher de fé inabalável
mensageira de amor, rainha do lar,
criatura de infinito coração,
capaz de repartir migalhas de pão
e de fazer milagres com suas virtudes,
sobretudo, com seu amor incondicional.
Essa mulher brilhante,
estrela-guia do meu coração errante,
essa mulher conselheira e companheira
que carinhosamente chamo: MINHA MÃE!
Luizinho Bastos
[Não é nenhuma pérola literária, nem nenhum texto precioso, mas quando se fala da mãe o que importa são os sentimentos e os verdadeiros nascem da boca das crianças! A minha faz hoje 96!]
Para Sempre, Carlos Drummond de Andrade
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
'Lição de Coisas'
[Nos 95 anos da minha mãe: oxalá pudesse também eu promulgar a lei de que fala o poeta, "Mãe não morre nunca!"]