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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

A MINHA MÃE

 
 

 

As ilusões semelham-se a um colar
De pérolas alvíssimas, de espuma.
Se o fio que as segura se quebrar,
Caem no chão, dispersas, uma a uma.
 
Caem no chão, dispersas, uma a uma,
Se o fio que as segura se quebrar;
Mas entre tantas sempre fica alguma,
Sempre alguma suspensa há-de ficar.
 
Das minhas ilusões, dos meus afectos,
Longo colar de amores predilectos,
Muitos rolaram já no pó também.
 
Um só dentre eles não cairá jamais:
Aquele que eu mais prezo entre os demais,
— O teu amor santíssimo de mãe.
 
Augusto Gil, Musa Cérula

MÃE

 

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    Aqui, mergulhado nesta tarde primaveril, afagado pelas suaves brisas vespertinas, recordo a tua vivacidade e as tuas carícias, Mãe.
    Os teus aromas a terra e a hortelã saciavam-nos os sentidos e as tuas mãos calosas, ao passar pelo rosto, eram mais macias que o veludo cálido da tua veste. A tua vivacidade arrastava-nos na voragem dos teus movimentos inquietos e sempre nos levava atrás de ti, seguindo-te as pisadas físicas ou psicológicas. Eras uma estrela vívida e brilhante, que nós sabíamos cadente, mas em que não queríamos pensar, porque te julgávamos eterna e perene – e, apesar de tudo, sê-lo-ás.
    Hoje, a tua memória trai-te a cada passo e a tua vivacidade definha com as forças que os anos te consomem. Somos ainda nós, para ti, não os teus filhos, ou netos – a memória traiu-te mesmo! – mas alguém com quem gostas de estar, de passar alguns momentos – e tantas vezes a vida nos arrasta para longe e impede de estar mais um pouco contigo! Hoje vives fechada em ti, recordas outras vidas, às vezes só tuas, mas continuas a acariciar-nos com as tuas mãos delgadas e ásperas que, contudo, permanecem carinhosas e de veludo, porque são as tuas.
    Mãe, as brisas primaveris continuarão a passar e os aromas estarão connosco!
 
(José Monteiro - 03.05.2009)

 

Rio da vida (1915 - 2012)

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Foi num dia assim de um janeiro distante
que o rio da tua vida brotou.
Da frieza circunstante
apareceu
cresceu
e mais tarde desaguou
noutros cinco rios mais
que hoje te continuam e recordam.

 

Sem hesitação – houve vários sinais –
unanimemente concordam
que a tua água foi luz
para seus periclitantes cursos.
Amparaste os seus percursos,
aliviaste a sua cruz,
e deste-lhes a vida também.

 

Obrigado, mãe!

 

09.01.2015
J M

( )

 

 

Assim.

O silêncio, o vazio, 

a ausência premente.

 

Estás, não estando.

Vês, já não te vemos,

mas sentimos-te em nós.

 

E, nessa voz, 

de lembrança, de saudade,

vivemos a ansiedade 

da tua partida.

 

Hoje celebramos-te,

apesar da distância.

Recordamos-te,

e a verdade de ti

permanecerá em nós.

 

(09.01.1915)

MÃE

 

Palavras para a Minha Mãe

 

 

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses 
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz. 
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente. 

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste 
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te 
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente. 

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo, 
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia 
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz. 

lê isto: mãe, amo-te. 

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não 
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que 
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não 
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes. 

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"



Descansa em paz. Descanso merecido de dever cumprido.

 

Mãe


Dantes, quando a deixava, 
As férias já no fim, 
Ela vinha à janela 
Despedir-se de mim. 

Depois, quando na estrada, 
Olhava para trás, 
Deitava-me ainda a bênção 
Para que eu fosse em paz. 

Dali não se movia, 
À vidraça encostada, 
Até que eu me perdia 
Já na curva da estrada. 

Hoje, se olho, calo-me 
E baixo os olhos meus! 
Já não vem à janela 
Para dizer-me adeus!

 

 

Alfredo Brochado

 

 

[Há 97 anos - obrigado!]

Mater / Mãe

 

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Dizer terra, fecundação, carinho, ...

Dizer ovo, madre, coração, ...

Dizer sémen, cuidado, marinho, ...

Dizer chuva, amor, paixão, ...

 

Dizer força, prazer, embrião, ...

Dizer húmus, maia, afecto, ...

Dizer coragem, arte, criação, ...

Dizer seio, úbere, tecto, ...

 

Dizer terra, femina, mulher

Dizer tudo e o princípio também

Dizer aquilo a que mais se quer

É dizer, simplesmente, MÃE!

 

(JM)

 

[Seriam 102 - sempre!]

MATER


 

Tu, grande Mãe!... do amor de teus filhos escrava, 
Para teus filhos és, no caminho da vida, 
Como a faixa de luz que o povo hebreu guiava 
À longe Terra Prometida. 

Jorra de teu olhar um rio luminoso. 
Pois, para batizar essas almas em flor, 
Deixas cascatear desse olhar carinhoso 
Todo o Jordão do teu amor. 

E espalham tanto brilho as asas infinitas 
Que expandes sobre os teus, carinhosas e belas, 
Que o seu grande dano sobe, quando as agitas, 
E vai perder-se entre as estrelas. 

E eles, pelos degraus da luz ampla e sagrada, 
Fogem da humana dor, fogem do humano pé, 
E, à procura de Deus, vão subindo essa escada, 
Que é como a escada de Jacó. 

Olavo Bilac, in "Poesias"

Tributo a uma mulher!

Essa mulher simples por mim querida

humanamente santa e generosa,

essa senhora tão maravilhosa,

horizonte e fonte da minha vida...

 

Bela como a aurora,

serena como a brisa,

pronta para servir e acolher,

amar e perdoar, consolar lágrimas

e compartilhar alegrias,

ocupada com seus afazeres

dando bronca com seus sábios dizeres ...

 

Essa mulher de fé inabalável

mensageira de amor, rainha do lar,

criatura de infinito coração,

capaz de repartir migalhas de pão

e de fazer milagres com suas virtudes,

sobretudo, com seu amor incondicional.

 

Essa mulher brilhante,

estrela-guia do meu coração errante,

essa mulher conselheira e companheira

que carinhosamente chamo: MINHA MÃE!

 

Luizinho Bastos

 

[Não é nenhuma pérola literária, nem nenhum texto precioso, mas quando se fala da mãe o que importa são os sentimentos e os verdadeiros nascem da boca das crianças! A minha faz hoje 96!]

MÃE

Para Sempre, Carlos Drummond de Andrade 

 

 

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho. 

'Lição de Coisas'

 

[Nos 95 anos da minha mãe: oxalá pudesse também eu promulgar a lei de que fala o poeta, "Mãe não morre nunca!"]