A litania da ausência - João Rasteiro
e depois os pássaros irão
povoar de ti novas ilusões
Ruy Belo
Falta-me a pureza do ar
nas obscuras palavras do meu país
e nas viscerais margens de um país,
e entrementes foi espigando o desamor
que a flor também desperdiçou
o meu desamor foi espigando desumano
em ufano país de lúcida quietude
enclausurado numa túnica de impuro sangue
enquanto os animais perduram
na mais recôndita paisagem das chuvas.
Falta-me o fingimento do verbo
nos obscurecidos poemas da minha plebe
e nos íntimos litorais de uma plebe,
falta-me a artificial puridade de Ruy Belo
indicando-nos a sua e nossa simetria de morte,
a mais galopante simetria de morte de um país.
[Retirado daqui: http://nocentrodoarco.blogspot.com/2011/11/canticos.html ]