Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Com a morte, também o amor

Ao valter hugo mãe 

Um dia o excelso dilúvio do sangue
queimará a noite, também os livros
jazerão sós sob as túnicas de Istambul,
com a morte, também o amor devia
acabar – num único e violento segredo.
.
A melancolia esvoaçará dos orifícios
expiando a culpa, as criaturas cinzentas
comover-se-ão pelo calor do tacto,
perecerão sozinhas - como a sua progénie.
.
E haverá a celebração dos precipícios
urdindo o beneplácito das heras, pois a flor
é um corpo excessivamente fresco e mortal,
o sangue, na primavera, é mais vermelho
que o barro nu – a terra é um lírio dobrado.
.
Porque amor e morte têm existência própria
convertem-se, mas os seus monstros subsistem
e subsistirão recolhidos à agonia do tempo
amando-se pelo ventre - até ao fim do mundo.


João Rasteiro

 

[Roubado daqui.]

 

 

Prémio Manuel António Pina - João Rasteiro

Labirinto

 

Agora o corpo fala de pássaros

anunciando a erosão rente à língua

o presságio que rasga o linho

o derrame da semente ao morrer.

 

Assusta-me o vidro dos olhos

esmagando-se no vértice da linha

a dormência ávida das águas

na rotação da última palavra.

 

Esta é a nudez intacta da luz

o ar na vibração do corpo

o cheiro agreste e puro da cânfora

o peso dos dedos sob o espanto.

 

 

Trata-se do vencedor do Prémio Manuel António Pina, instituído pela C. M. Guarda:

JOÃO RASTEIRO (Coimbra - Portugal, 1965). Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos, pela Universidade de Coimbra. Poeta e ensaísta, traduziu para o português vários poemas de Harold Alvarado Tenorio, Miro Villar e Juan Carlos Garcia Hoyuelos.

[Para saber mais aqui.]