Com a morte, também o amor
Ao valter hugo mãe
Um dia o excelso dilúvio do sangue
queimará a noite, também os livros
jazerão sós sob as túnicas de Istambul,
com a morte, também o amor devia
acabar – num único e violento segredo.
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A melancolia esvoaçará dos orifícios
expiando a culpa, as criaturas cinzentas
comover-se-ão pelo calor do tacto,
perecerão sozinhas - como a sua progénie.
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E haverá a celebração dos precipícios
urdindo o beneplácito das heras, pois a flor
é um corpo excessivamente fresco e mortal,
o sangue, na primavera, é mais vermelho
que o barro nu – a terra é um lírio dobrado.
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Porque amor e morte têm existência própria
convertem-se, mas os seus monstros subsistem
e subsistirão recolhidos à agonia do tempo
amando-se pelo ventre - até ao fim do mundo.
João Rasteiro
[Roubado daqui.]