As Câmaras Municipais de Guarda e do Sabugal promovem, até ao final do ano, um ciclo cultural dedicado ao escritor Nuno de Montemor, que inclui colóquios, exposições, oficinas, edições e teatro, foi hoje anunciado.
A iniciativa, a realizar entre quinta-feira e 12 de dezembro, surge integrada nas comemorações do cinquentenário da morte do escritor Nuno de Montemor, pseudónimo do padre Joaquim Augusto Álvares de Almeida, que nasceu em Quadrazais (Sabugal), a 16 de dezembro de 1881 e morreu, em Lisboa, a 04 de janeiro de 1964.
Segundo os organizadores da iniciativa, o homenageado desenvolveu, na Guarda, "grande parte da sua atividade como autor, como capelão militar e como mentor do Lactário Dr. Proença".
O ciclo dedicado a Nuno de Montemor começa na quinta-feira, no Teatro Municipal da Guarda, com uma oficina e leitura encenada da obra "Água de Neve", destinada a alunos do 1.º ciclo do ensino básico.
As sessões serão realizadas na quinta-feira, na sexta-feira e nos dias 26, 27, 28, 29 e 30 de maio, às 10:00 e às 14:30.
No dia 26, às 10:00, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (BMEL) será inaugurada a exposição "Nuno de Montemor: Alma brava e meiga", que ficará patente ao público até 12 de julho.
No mesmo dia, pelas 10:30, começará um colóquio intitulado "Vida e obra do escritor Nuno de Montemor", com intervenções de Jesué Pinharanda Gomes, Manuel Joaquim Geada Pinto, Eduardo Sucena eJosé Manuel Monteiro.
Ainda na BMEL, será apresentado, às 18:00 do dia 26 de maio, o número 34 da Revista "Praça Velha", que inclui um núcleo temático dedicado à vida e obra do escritor Nuno de Montemor, segundo a organização.
O programa comemorativo inclui ainda, no dia 12 de julho, às 21:30, na Guarda, a representação da peça de teatro "Maria Mim", pelo grupo de teatro "Guardiões da lua".
O ciclo cultural prossegue, no dia 23 de julho, no Sabugal, com a inauguração da exposição "Nuno de Montemor: Alma brava e meiga", que ficará patente, até 28 de setembro, no Museu do Sabugal.
De 09 a 12 de dezembro, será a vez de os alunos das escolas do 1.º ciclo do ensino básico do concelho do Sabugal assistirem à leitura encenada da obra de Nuno de Montemor "Água de Neve".
As atividades encerram no dia 12 de dezembro, no Auditório Municipal do Sabugal, com um novo colóquio sobre "Vida e obra do escritor Nuno de Montemor".
A obra literária de Nuno de Montemor é vasta e abrange poesia, conto, novela e romance, tendo sido estudada no estrangeiro e traduzida para várias línguas.
É autor dos livros "Flávio" (1923), "A Hora Vermelha" (1932), "Água de Neve" (1933), "Maria Mim" (1939), "O Crime de um Homem Bom" (1945) e "Rapazes e Moças da Estrela" (1959), entre outros.
Ponto de encontro para o início da visita: Praça Luís de Camões
Participação gratuita e sem marcação
Ficha
Coordenação geral:Américo Rodrigues
Autoria de texto e encenação: Antónia Terrinha
Interpretação: André Amálio
Uma produção da Culturguarda para a Câmara Municipal da Guarda
Apresentação
Um comediante que veste a pele de Augusto Gil é o guia de uma visita encenada onde não falta o humor e a ironia. O público é convidado a fazer um percurso diferente pela cidade, por ruas com muito para ver e contar, conhecendo figuras e locais do imaginário guardense. Uma viagem para descobrir ou redescobrir sítios, pessoas, estórias e histórias da Guarda.
Objectivos da iniciativa
- Atracção de visitantes ao centro da cidade
- Dinamização do Centro Histórico
- Enriquecer a oferta turístico-cultural da cidade no período de realização da actividade, época alta de turismo
- Renovar a atenção para um grande poeta da cidade e para a sua herança literária associada ao património histórico e afectivo, relembrando-os à comunidade e dando-os a conhecer aos seus visitantes sob uma perspectiva teatral
André Amálio (actor)
Artista, performer, deviser, encenador e professor de teatro tem vindo a desenvolver trabalho nas áreas da performance e teatro experimental e contemporâneo. Trabalhou com vários encenadores, destacando-se João Brites, Luís Castro, Daniel Sumerville, Anna Furse, Carlos Avilez, Antónia Terrinha e com o realizador João Trabulo.
Recentemente tem pesquisado e criado espectáculos à volta de temas como o quotidiano e a identidade cultural. Encontra-se a desenvolver um trabalho a solo em colaboração com a companhia Inprocess Collective – IC (Londres). É o director artístico do projecto Liberdade Provisória (Lisboa).
Participou como actor na iniciativa Passos à volta da Memória - Uma visita encenada à Sé Catedral da Guarda (2011).
Antónia Terrinha (encenadora)
Antónia Terrinha começou o seu percurso noTeatro O Bando, tendo passado por outras companhias como A Comuna e a Cornucópia. Esteve ligada a projectos de teatro infantil, como actriz e como encenadora. Dirigiu com Cândido Ferreira a Companhia do Teatro Chaby Pinheiro da Nazaré e fundou a companhia ”Teatro em Curso”. Participou também em filmes para cinema e televisão.
Encenou as iniciativas Passos à volta da Memória - Uma visita encenada ao Centro Histórico da Guarda (2010); Passos à volta da Memória - Uma visita encenada à Sé Catedral da Guarda (2011) e Passos à volta da memória – A Presença Judaica na Guarda (2012).
Dados estatísticos das anteriores edições:
2012
“Passos à volta da Memória IV” – Romagem Teatral ao Cabeço das Fráguas
Números
11 Visitas Encenadas
237 Visitantes
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2012
“Passos à volta da memória III” – A Presença Judaica na Guarda
Números 57 Visitas encenadas 1.929 Visitantes
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2011
“Passos à volta da memória II” - Uma visita encenada à Sé Catedral da Guarda
Números 108 Visitas encenadas 4.858 Visitantes
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2010
“Passos à volta da memória I” - Uma visita encenada ao Centro Histórico da Guarda
2012! RIP! Não deixa saudades. Não deixa grandes esperanças. Não ventura nada de bom. Nada. Exagero, claro! Mesmo o mais negativo deixa sempre lições que se podem tirar. Mas neste caso tanto a nível pessoal como social, profissional, nacional é predominantemente negativo. Da Guarda que nos resta? Perdemos, melhor, continuámos a perder. Veio algo de novo e de positivo? Não me lembro. Exagero novamente. Há sempre as pessoas que mesmo em baixo e em crise conseguem superar dificuldades. E aqui há que louvar as manifestações de solidariedade social realizadas para ajudar / apoiar pessoas e instituições. Não destaco nenhuma para não falhar, mas é isso que continua a motivar e a ter confiança no ser humano. Ao menos os valores vão ficando apesar da sua destruição sistemática “há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não!” Que nos anima? Que a cultura continue a pôr a nossa cidade no mapa nacional, que os nossos jovens continuem a destacar-se nas iniciativas de renovação de uma cidade que parece ter parado no tempo crítico. Que as pessoas continuem a defender os valores e a solidarizar-se umas com as outras, mostrando que “mesmo na noite mais triste” há sempre uma chama de uma vela a iluminar um caminho dificílimo. Nem que essa vela seja a poesia ou a literatura! Perdemos o MAP, mas ganhámos livros de poesia. Esperança, confiança e acção sejam as forças de 2013! (Essas não no-las podem roubar! pelo menos as duas primeiras.)
Com todo o mérito, o Prémio Pessoa 2011 vai para o nosso pensador Eduardo Lourenço. Parabéns ao homenageado! Devemos estar orgulhosos, como cidadãos da Guarda, por este galardão.
Faz hoje meio século de existência este velho amigo, mas não amigo velho. Dá-se a coincidência de termos nascido na mesma freguesia e, dizem os mais velhos, ter havido lá muito para trás antepassados comuns. No entanto, aparece aqui não por esse motivo, mas por continuar a ser motivo de orgulho para todos os guardenses, não só pelo trabalho em prol da cidade, leia-se da cultura, não só pela obra que tem já publicada, mas também porque segunda-feira à noite vai receber das mãos da Sra. Ministra da Cultura o Diploma e Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Não é para todos! A sua obra fala por si e assim o reconheceu a Ministra da Cultura. Por cá, infelizmente, continua a ser pouco valorizado o seu trabalho.
Abraço de parabéns, caro amigo!
Fica um poema:
Há dez anos mais ano menos ano decidi que escreveria um poema por dia na Sé Catedral da Guarda.
A Sé é um navio de pedra encalhado pousado numa cidade medieval que nos guardava dos espanhóis. Prometi escrever um poema por dia dentro do navio de granito naufragado parado no centro de uma terra que hoje aguarda os espanhóis. Prometi mas não cumpri. Escrevi um único poema dentro do templo sem tempo. Ao segundo dia desta aventura sentado no convés do navio a caneta caiu-me da mão o corpo enregelou e ficou imóvel num barco imóvel.
Ainda lá estou. Paralisado pelo frio em estado de sólida quietude. Um dia (amanhã, talvez) o meu corpo de gelo partir-se-á em mil pedacinhos. A Guarda que antes acolhia a Sé Catedral e viaja agora a bordo do navio de pedra nem sequer o saberá.
Manuel Poppe fez-se homem na Guarda. No “Rocha”, mas também no “Poço do Gado”. Na Biblioteca do Padre Pôpo, mas também na papelaria do Senhor Casimiro. Tem da Guarda a memória dos afectos. Muitas vezes provocatório e quase sempre irreverente q.b. Manuel Poppe é um intelectual distinto. Não alinha no politicamente correcto, nem no silêncio das conveniências. É cidadão de corpo inteiro, amigo do desassombro. Diz o que pensa, o que é raro neste país de capelinhas e de figurões bem-falantes. Anarquista tranquilo, Manuel Poppe é, para além de um excelente prosador, um homem íntegro, um homem livre.
Fez crítica literária no “Diário Popular”e produziu e apresentou um programa sobre livros na televisão. Foi conselheiro cultural junto da Embaixadas de Portugal em Roma, São Tomé, Telavive e Rabat. É “Dottore in Lingue e Leterrature Straniere, pela Universidade “La Sapienza”, com uma tese sobre Régio. Sandro Pertini distinguiu-o com a comenda da Ordem de Mérito e as cidades de Florença e Veneza com as respectivas Medalhas de Ouro.
[Início de uma entrevista feita por Américo Rodrigues e publicada na revista "Praça Velha"; o resto pode ser lido aqui.]