Que cheiro doce e fresco, por entre a chuva me traz o sol, me traz o rosto, entre março e abril o rosto que foi meu, o único que foi afago e festa e primavera?
O cheiro puro de só da terra! não das mimosas, que já tinham florido no meio dos pinheiros; não dos lilases, pois era cedo ainda para mostrarem o coração às rosas; mas das tímidas, doces flores de cor difícil, entre limão e vinho, entre marfim e mel abertas no canteiro junto ao tanque
Frésias, ó pura memória de ter cantado – pálidas, fragrantes, entre chuva e sol e chuva - que mãos vos colhem, agora que estão mortas as mãos que foram minhas?
Não sei porque floriram no meu rosto os olhos e os rostos que há em ti. Floriram por acaso, ao sol de Agosto sem mesmo haver Agosto ou sol em mim. Não sei porque floriram: se o orvalho os queima (Ponho as mãos nos olhos para os proteger!) Tão estranho! florirem no meu rosto olhos e rostos que não posso ver. . Eugénio de Andrade, Fevereiro de 1946
Ouço correr a noite pelos sulcos do rosto – dir-se-ia que me chama, que subitamente me acaricia, a mim, que nem sequer sei ainda como juntar as sílabas do silêncio e sobre elas adormecer.
Não sei como vieste, mas deve haver um caminho para regressar da morte.
Estás sentada no jardim, as mãos no regaço cheias de doçura, os olhos pousados nas últimas rosas dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, Dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.
Não sei como vieste, mas deve haver um caminho para regressar da morte.
Estás sentada no jardim, as mãos no regaço cheias de doçura, os olhos pousados nas últimas rosas dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, Dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.