Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Lembrando Cesário

 

Sentado na mesa do café devasso
Olho a paisagem vestida a verde
Extasiam-se-me os olhos no poente,
E revejo a tua Milady, ó Cesário Verde!

 

Sem desprimor para a airosa rapariga
Portuguesa de lei e bem elegante
Que passa simples e descontraída
No seu fato de treino desestressante.

 

Ao longe, as eólicas lutam desesperadas
Contra a força intensa do frio norte
E as árvores, nesta altura, desfolhadas
Agitam os ramos perdido já o porte.

 

E vêem-me à memória uns dias estivais
Cheios de emoções e passeio matutino
Intensos, secos, avessos a vendavais
Iludindo a força secreta do fatal destino.

 

Triste condição humana: efemeridade!
Tudo é passageiro e fugaz e inexorável!
Sensações enganadoras de felicidade!
Ilusões perdidas de uma vida: lamentável!

 

(Sorriso cúmplice de mãe e filha
Que termina em sonora gargalhada,
Foi uma pequena maravilha
Iluminando a tarde enevoada!)

 

JM - 16.03.2010

Foto de José Manuel Monteiro.
 
 

Vaidosa - Cesário Verde (125 anos)

Dizem que tu és pura como um lírio

E mais fria e insensível que o granito,

E que eu que passo aí por favorito

Vivo louco de dor e de martírio.


Contam que tens um modo altivo e sério,

Que és muito desdenhosa e presumida,

E que o maior prazer da tua vida,

Seria acompanhar-me ao cemitério.


Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,

A déspota, a fatal, o figurino,

E afirmam que és um molde alabastrino,

E não tens coração como as estátuas.


E narram o cruel martirológio

Dos que são teus, ó corpo sem defeito,

E julgam que é monótono o teu peito

Como o bater cadente dum relógio.


Porém eu sei que tu, que como um ópio

Me matas, me desvairas e adormeces,

És tão loira e doirada como as messes,

E possuis muito amor... muito amor próprio.

 

"O livro de Cesário Verde"