António Correia de Oliveira
António Correia de Oliveira
(1879 – 1960)
Três modos de despedida
Tem o meu bem para mim:
- «Até logo»; «até à vista»:
Ou «adeus» – É sempre assim.
Nascido no ano a seguir a Afonso Lopes Vieira, em S. Pedro do Sul, este poeta foi contemporâneo do poeta de S. Pedro de Moel e conviveu com outro escritor dos fins do século XIX, Raul Brandão. Foi também neogarretista e pertenceu ao grupo do saudosismo de Teixeira de Pascoaes. Era presença assídua nos livros de leitura do estado novo pois os seus poemas eram de exaltação da pátria e da ideologia oficial, sendo considerado por alguns, poeta oficioso do regime. Quem estudou por essa altura recorda, com certeza, os seus poemas com conselhos explícitos aos jovens: “Ouve, meu filho, cheio de carinho, … “ ou “Olha, meu filho, …”. Trata-se pois de uma poesia de cariz popular e moralista.
Como referido, nasceu no distrito de Viseu e frequentou o Seminário da mesma cidade tendo-o abandonado e, assim mesmo, os estudos. Deslocou-se para Lisboa onde, apesar dos breves estudos, colaborou em rápida passagem no Diário Ilustrado, tendo ingressado posteriormente na função pública. Depois do casamento com uma rica senhora do Minho, passou a viver nas proximidades de Esposende onde viria a falecer com 81 anos.
Tendo publicado a primeira obra aos 16 anos, deixou-nos mais de uma trintena de livros em que predomina o metro de gosto popular e cuja característica mais saliente é a simplicidade e uma certa ingenuidade. Os seus poemas têm também um certo pendor narrativo, onde domina a exaltação da pátria. Devido à sua ligação ao regime dominante foi bastante esquecido e hoje mal se ouve falar dele. A sua obra é uma espécie de síntese das várias correntes poéticas da poesia finissecular e embora privilegie o saudosismo podem observar-se nos seus poemas o realismo à Guerra Junqueiro, o panteísmo saudosista à Pascoaes e o idealismo cristão. Aliás como era hábito e moda nessa altura, colaborou com muita frequência com as revistas literárias como, por exemplo, Águia, Atlântida, Ave Azul e Seara Nova. A sua obra mais conhecida é Verbo Ser e Verbo Amar.
José Régio, o grande crítico literário do século XX, diz que foi “um cantor cheio de frescura e encanto, nas suas quadras e quintilhas em que a arte de Sá de Miranda se alia ao capricho da inspiração popular”. Outro grande crítico do século passado, Jacinto Prado Coelho, salienta na sua obra a capacidade de poetizar “os mistérios do Génesis e da Redenção.” O próprio Fernando Pessoa, nos textos críticos publicados na revista Águia, falou dos seus poemas, referindo-se a uma nova fase, com certeza aludindo à metafísica das Tentações de Sam Frei Gil e Alma Religiosa. O seu lirismo, haurido em sentimentos familiares e tradicionais e no apego à terra e à paisagem, não buscou nunca originalidade de forma. A sua aproximação dos temas populares ditou-lhe, a par de conceitos, moralidades e glosas, uma idealização dos costumes campestres, que umas vezes se eleva a síntese de grande beleza, outras roça pela vulgaridade. (João Pedro de Andrade)
Foi tão apreciado na sua época que vinte dos seus colegas o propuseram, em 1933, para o Prémio Nobel da Literatura, sendo assim o primeiro escritor candidato ao galardão.
José Manuel Monteiro
Mãe
Olha, meu filho! quando, à aragem fria
De algum torvo crepúsculo, encontrares
Uma árvore velhinha, em modo e em ares
De abandono e outonal melancolia,
Não passes junto dela nesse dia
E nessa hora de bênçãos, sem parares;
Não vás, sem longamente a contemplares:
Vida cansada, trémula e sombria!
Já foi nova e floriu entre esplendores:
Talvez em derredor, dos seus amores
Inda haja filhos que lhe queiram bem...
Ama-a, respeita-a, ampara-a na velhice;
Sorri-lhe com bondade e com meiguice:
— Lembre-te, ao vê-la, a tua própria Mãe!
António Correira de Oliveira, in 'Antologia Poética'
[Texto publicado no jornal "A GUarda", de 22.02.2018]