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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Quero a Fome de Calar-me

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Quero a fome de calar-me. O silêncio. Único 
Recado que repito para que me não esqueça. Pedra 
Que trago para sentar-me no banquete 

A única glória no mundo — ouvir-te. Ver 
Quando plantas a vinha, como abres 
A fonte, o curso caudaloso 
Da vergôntea — a sombra com que jorras do rochedo 

Quero o jorro da escrita verdadeira, a dolorosa 
Chaga do pastor 
Que abriu o redil no próprio corpo e sai 
Ao encontro da ovelha separada. Cerco 

Os sentidos que dispersam o rebanho. Estendo as direcções, estudo-lhes 
A flor — várias árvores cortadas 
Continuam a altear os pássaros. Os caminhos 
Seguem a linha do canivete nos troncos 

As mãos acima da cabeça adornam 
As águas nocturnas — pequenos 
Nenúfares celestes. As estrelas como as pinhas fechadas 

Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio 
Alveolar expira — e eu 
Estendo-as sobre a mesa da aliança 

Daniel Faria