MÃE
Aqui, mergulhado nesta tarde primaveril, afagado pelas suaves brisas vespertinas, recordo a tua vivacidade e as tuas carícias, Mãe.
Os teus aromas a terra e a hortelã saciavam-nos os sentidos e as tuas mãos calosas, ao passar pelo rosto, eram mais macias que o veludo cálido da tua veste. A tua vivacidade arrastava-nos na voragem dos teus movimentos inquietos e sempre nos levava atrás de ti, seguindo-te as pisadas físicas ou psicológicas. Eras uma estrela vívida e brilhante, que nós sabíamos cadente, mas em que não queríamos pensar, porque te julgávamos eterna e perene – e, apesar de tudo, sê-lo-ás.
Hoje, a tua memória trai-te a cada passo e a tua vivacidade definha com as forças que os anos te consomem. Somos ainda nós, para ti, não os teus filhos, ou netos – a memória traiu-te mesmo! – mas alguém com quem gostas de estar, de passar alguns momentos – e tantas vezes a vida nos arrasta para longe e impede de estar mais um pouco contigo! Hoje vives fechada em ti, recordas outras vidas, às vezes só tuas, mas continuas a acariciar-nos com as tuas mãos delgadas e ásperas que, contudo, permanecem carinhosas e de veludo, porque são as tuas.
Mãe, as brisas primaveris continuarão a passar e os aromas estarão connosco!
(José Monteiro - 03.05.2009)