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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

CAIS

“Ah, todo o cais é uma saudade de pedra.” – Fernando Pessoa

 

Sento-me no cais da tarde

E ouço o vento respirar a saudade.

Penso-me e sinto que arde

O tempo vespertino na idade

 

De uma infância que não tive.

Restauro as imagens guardadas,

O menino de escola e bibe

Regato breve de águas paradas.

 

Espalho-me como Caeiro pela encosta

E sou uma parcela do rebanho pessoal

De um Reis epicurista e que não gosta

De se sentir exageradamente banal.

 

Vejo o cais - da Ode Marítima - eufórico

Da modernidade ascendente e citadina.

E a pedra onde me sento e sinto plectórico

Ergue-se na minha mente em neblina.

 

Eivado de Pessoa, entro no meu destino

De procurar palavras exactas, expressivas,

Mas encontro só o eco inerte sem tino

E deserto de euforias modernas e vivas.

 

J M 30.11.2019