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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

fugaCIDADEs

Sabendo de antemão que há estrelas no céu

Pedi aos cometas que fossem deixando rasto

Para o resto do tempo

Mas como a humanidade se esgrime ao contratempo

Regurgitei os pensamentos de anteontem

Mas sem véu

Porque afinal a vida é um filme sem meios de realização

Onde os actores se sentem perdidos

Estragados humilhados e ofendidos

Sem temor a qualquer razão ou perdão.

 

 

                                                              JM

 

 

 

fugaCIDADEs

A noite cai pálida e transparente

por detrás de uma vidraça de loucuras,

onde os anjos brincam de crianças

e os homens de tristezas e venturas.

 

O homem das estrelas cai oblíquo

no paço das canções por inventar

e nas ruas da cidade o orvalho

cai por entre as gotas de luar.

 

O sonho das crianças surge ingente

no ar aberto da madrugada

e sente-se pairar um quase - tudo

onde a satisfação surge realizada.

 

Um novo dia, nova Primavera

assoma forte no alvorecer

e se as promessas não forem vãs

o mundo vai voltar a amanhecer.

 

J.M.

fugaCIDADEs

A minha alma é um bulício,

 

onde as planícies da tarde, desaguam

os sonhos do entardecer;

 

onde a vida se esvai no crepúsculo

e sobra pouco para o amanhecer;

 

onde a lua perde os seus raios de prata

e ganha novo rejuvenescer;

 

onde o sol perde a consistência

e deixa o dourado se desvanecer;

 

onde a essência da vida se dana

mas os sonhos ganham alento de ser...

J.M.

 

fugaCIDADEs

Uma ave passava

lenta e solene

na tarde aveludada

de um Setembro oblíquo

deixando no ar

gestos perfeitos

de um equilíbrio inato.

 

À sombra das poucas nuvens

traçava esquissos

de parábolas e ogivas ambíguas.

 

Animava-a, contudo, a beleza ingente

duns gestos gritados

na certeza inexorável

de uma liberdade absoluta.

 

J. M.

 

fugaCIDADEs

 

No escuro translúcido do tempo

restam vaga-lumes artificiais
que impedem o pensamento
(grave e duro contratempo!)
de mergulhar nas metáforas existenciais.
E do subconsciente diluído
chegam Platão, Aristóteles, Zenão,
Epicuro e tantos outros mais
em suas cavernas e mundos ficcionais
produtos da noê , da paixão

que, na vida, arrastam o coração.
 
J. M.

fugaCIDADEs - O largo

O LARGO

 

Tudo se resolveu partir naquela tarde.

O Largo ficou triste, solitário e temeroso.

No silêncio ouvia-se um respirar afogueado

revolvendo-se  num pavor misterioso.

 

Ergueu-se, de repente, um grito vermelho

(o silêncio fugiu branco e veloz)

inerte, inócuo e pervertido

grito de loucura de um mundo  a sós.

 

J.M.