Não sei de quem memoro meu passado
Que outrem fui quando o fui, nem se conheço
Como sentindo com minha alma aquela
Alma que a sentir lembro.
De dia a outro nos desamparamos.
Nada de verdadeiro a nós nos une.
Somos quem somos, e quem fomos foi
Coisa vista por dentro.
Tuas, não minhas, teço estas grinaldas, Que em minha fronte renovadas ponho. Para mim tece as tuas, Que as minhas eu não vejo. Se não pesar na vida melhor gozo Que o vermo-nos, vejamo-nos, e, vendo, Surdos conciliemos O insubsistente surdo. Coroemo-nos pois uns para os outros, E brindemos uníssonos à sorte Que houver, até que chegue A hora do barqueiro.
Azuis os montes que estão longe param. De eles a mim o vário campo ao vento, à brisa, Ou verde ou amarelo ou variegado, Ondula incertamente. Débil como uma haste de papoila Me suporta o momento. Nada quero. Que pesa o escrúpulo do pensamento Na balança da vida? Como os campos, e vário, e como eles, Exterior a mim, me entrego, filho Ignorado do Caos e da Noite Às férias em que existo.