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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Feira

Já naquele longínquo ano era assim: para quê comentários!!!!!

    S. Martinho de Anta., 22 de Março de 1978 — A feira. O espelho local onde se reflecte a perdição do mundo. Acabou o artesanato, a expressão singular da actividade humana. Nem um barro modelado, nem uma manta tecida à mão, nem um ferro forjado. Plástico a todos os níveis. E o mais trágico é que ninguém dá por isso. Ninguém parece lembrar-se sequer do latoeiro, do cesteiro ou do tanoeiro, que ainda há pouco eram presenças sacramentais nos pontos privilegiados do largo, à frente do mostruário das suas obras manufacturadas. Montes e montes de produtos incaracterísticos, feitos em série, enfartam agora os compradores. Nem escolha possível, nem gosto possível, nem objecção possível.

— Não é sola...

— Faz as vezes...

O tempo é outro, as solicitações são outras, as mentalidades são outras. Até a angústia mudou, pois que mudou a relação do homem com as coisas. Um risco abstracto basta agora à exactidão do nosso perfil.

Diário XIII