Feira
Já naquele longínquo ano era assim: para quê comentários!!!!!
S. Martinho de Anta., 22 de Março de 1978 — A feira. O espelho local onde se reflecte a perdição do mundo. Acabou o artesanato, a expressão singular da actividade humana. Nem um barro modelado, nem uma manta tecida à mão, nem um ferro forjado. Plástico a todos os níveis. E o mais trágico é que ninguém dá por isso. Ninguém parece lembrar-se sequer do latoeiro, do cesteiro ou do tanoeiro, que ainda há pouco eram presenças sacramentais nos pontos privilegiados do largo, à frente do mostruário das suas obras manufacturadas. Montes e montes de produtos incaracterísticos, feitos em série, enfartam agora os compradores. Nem escolha possível, nem gosto possível, nem objecção possível.
— Não é sola...
— Faz as vezes...
O tempo é outro, as solicitações são outras, as mentalidades são outras. Até a angústia mudou, pois que mudou a relação do homem com as coisas. Um risco abstracto basta agora à exactidão do nosso perfil.