Gerês
Gerês, 26 de Agosto de 1942.
ÁGUA
Água a correr na fonte.
Uma quimera líquida que sai
Das entranhas do monte
A saber ao mistério que lá vai...
Pura,
Branca, inodora e fria,
Cai numa pedra dura
E desfaz o mistério em melodia...
.
Gerês, 26 de Agosto de 1942.
CONDENAÇÃO
Toda a manhã o lírico pagão,
O animal sensível que em mim olha,
Olhou, olhou, cheio de comoção,
Uma folha.
Era de tília a mágica verdura.
Larga, quieta, ao sol, vivia.
E a viver assim dava frescura
A quem da terra seca lha pedia.
Nisto, não sei que maldição soprou,
Ou que Deus demoníaco sorriu,
Que toda aquela calma se agitou
E caiu.
Torga, Diário II