Angústia de poeta
Coimbra, 21 de Agosto de 1982.
PÂNICO
Nestas horas sem versos,
É o silêncio da morte que adivinho.
Um silêncio maninho
Que entorpece os sentidos.
A vida
Anoitecida
Na lembrança,
Com todos os pecados cometidos
Já sem peso no prato da balança.
Assim são condenados os poetas
À visão do seu nada,
Quando as musas cruéis os emudecem.
Quando parecem
Múmias a apodrecer.
Quando em vão querem ter
A voz passada.
A voz insone que os fazia ser
Os arautos da eterna madrugada.
Torga, Diário XIV