Poeta/profeta
A bordo para o Brasil, 31 de Julho de 1954.
JONAS
Do ventre da baleia me interrogo;
Da negrura do ventre
Do navio em que vou, monstro marinho.
De que Nínive fujo, e a que Társis me leva
Este caminho?
Ah, se os poetas fossem como outrora
Instrumentos de Deus!
Não teriam no mundo, como eu tenho agora,
A trágica incerteza
Do seu destino.
Devorados ou não,
Iam sempre na mesma direcção
Do roteiro divino.
Torga, Diário VII