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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Serra da Estrela

 Porque ontem o céu ficou pardacento, lento e a anunciar tempestade, a vontade de postar dobrou-se à angústia do ser: as minhas desculpas a Torga e aos possíveis leitores. Hoje ficam dois registos díspares em intenções, mas próximos em mito.

Serra da Estrela, Poço do Inferno, 22 de Julho de 1951.

MERGULHO

Tirem o Céu da sua altura triste;

Olhem a cor do inferno aqui no chão:

Verde-esmeralda que, se não existe,

E um milagre de luz em cada mão.

Anjos de barro, o nosso espelho apenas

Deve ser o cristal que viu Narciso:

Água dum poço de ilusões pequenas

Onde morra e renasça o Paraíso.

Coimbra, 22 de Julho de 1958.

FÁBULA DA FÁBULA

Era uma vez

Uma fábula famosa,

Alimentícia

E moralizadora,

Que, em verso e prosa,

Toda a gente

Inteligente,

Prudente

E sabedora

Repetia

Aos filhos,

Aos netos

E aos bisnetos.

À base duns insectos,

De que não vale a pena fixar o nome,

A fábula garantia

Que quem cantava

Morria

De fome.

E, realmente...

Simplesmente,

Enquanto a fábula contava,

Um demónio secreto segredava

Ao ouvido secreto

De cada criatura

Que quem não cantava

Morria de fartura.

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Torga, Diário