Exuberante!
Este Torga do nosso contentamento, quando a euforia parece despontar, tem sempre um travão para desancar e refrear esta pobre humanidade sedenta de emoção e alegria. Hoje apetecia-me um poema alegre, exuberante (como por exemplo o de 8 de Junho!), mas não: aparece uma solidão que nos vem lembrar os riscos que corremos se os deuses tiverem ciúmes da nossa felicidade. Ficar isolados, sós, será um destino inevitável? Perdoe-se-lhe este desalento e gozemos o momento com, por exemplo, essa música e letra romanticamente arrepiante de Bryan Adams!
Coimbra, 20 de Julho de 1992.
SOLIDÃO
Pouco a pouco, vamos ficando sós,
Esquecidos ou lembrados
Como nomes de ruas secundárias
Que a custo recordamos
Para subscritar
A urgência dum beijo epistolar
Ainda inutilmente apetecido.
Mortos sem ter morrido,
Lúcidos defuntos,
Vemos a vida pertencer aos outros.
E descobrimos, na maneira deles,
Que nada somos
Para além do seu dissimulado
Enfado
Paciente.
E que lá fora, diariamente,
Conforme arde no céu,
O sol aquece
Ou arrefece
Os versáteis e alheios sentimentos.
E que fomos riscados
No rol da humanidade
A que já não pertencemos
De maneira nenhuma.
E que tudo o que em nós era claridade
Se transformou em bruma.
.Torga, Diário XVI