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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Exuberante!

  Este Torga do nosso contentamento, quando a euforia parece despontar, tem sempre um travão para desancar e refrear esta pobre humanidade sedenta de emoção e alegria. Hoje apetecia-me um poema alegre, exuberante (como por exemplo o de 8 de Junho!), mas não: aparece uma solidão que nos vem lembrar os riscos que corremos se os deuses tiverem ciúmes da nossa felicidade. Ficar isolados, sós, será um destino inevitável? Perdoe-se-lhe este desalento e gozemos o momento com, por exemplo, essa música e letra romanticamente arrepiante de Bryan Adams!

Coimbra, 20 de Julho de 1992.

SOLIDÃO

Pouco a pouco, vamos ficando sós,

Esquecidos ou lembrados

Como nomes de ruas secundárias

Que a custo recordamos

Para subscritar

A urgência dum beijo epistolar

Ainda inutilmente apetecido.

Mortos sem ter morrido,

Lúcidos defuntos,

Vemos a vida pertencer aos outros.

E descobrimos, na maneira deles,

Que nada somos

Para além do seu dissimulado

Enfado

Paciente.

E que lá fora, diariamente,

Conforme arde no céu,

O sol aquece

Ou arrefece

Os versáteis e alheios sentimentos.

E que fomos riscados

No rol da humanidade

A que já não pertencemos

De maneira nenhuma.

E que tudo o que em nós era claridade

Se transformou em bruma.

.Torga, Diário XVI