Aveiro
Aveiro, 24 de Maio de 1958 — Gosto desta terra. Não por se parecer com outras lá de fora, com que se não parece, aliás, mas por ser a realidade portuguesa que é — uma originalíssima expressão urbana e humana, ao mesmo tempo firme e movediça dentro do corpo da pátria, cais de embarque e terreiro de discussão, doce e salgada no sabor, e perpetuamente arejada por uma fresca brisa de maresia e revolta. Entra-se nela, e respira-se doutra maneira. O peito oprimido enche-se dum oxigénio imprevisto e generoso, ainda nativo, e já com todo o iodo tónico do largo. O iodo tónico da liberdade...
Torga, Diário VIII