Antero de Quental
A M. C.
No Céu, se existe um céu para quem chora,
Céu para as mágoas de quem sofre tanto...
Se é lá do amor o foco, puro e santo,
Chama que brilha, mas que não devora...
No Céu, se uma alma nesse espaço mora,
Que a prece escuta e enxuta o nosso pranto...
Se há pai, que estenda sobre nós o manto
Do amor piedoso... que eu não sinto agora...
No Céu, ó virgem! findarão meus males:
Hei-de lá renascer, eu que pareço
Aqui ter só nascido para dores.
Ali, ó lírio dos celestes vales!
Tendo seu fim, terão o seu começo,
Para não mais findar, nossos amores.
Antero de Quental, Sonetos Completos