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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Mulher vestida de escuro

Essa mulher vestida de escuro,

sentada à porta de casa

tinha gravada no olhar a espera.

 

Esperavas o quê, boa mulher?

A brisa do vento,

O nascer do pensamento,

O calor da tarde,

A presença dos filhos ausentes.

(Afinal o que sentes?)

Esperavas na mesma

porque a tua espera vinha de sempre:

estava-te no sangue da aldeia.

Germinava-te na ideia

como as sementes que deitavas à terra

com o mesmo carinho das tuas mãos escuras

acariciando as feridas leves dos teus filhos

limpas com o tacto dos teus lábios.

 

Hoje desabitaste a casa

que parece um deserto sombrio:

a porta fechou-se

e a tua espera está em ti,

mulher vestida de escuro.

 

JM (21.03.2011)

 

[Poema lido ontem na sessão da BMEL, "verso a verso se guarda a poesia na Guarda! Foi bom rever e aprender com bons amigos!]