Mulher vestida de escuro
Essa mulher vestida de escuro,
sentada à porta de casa
tinha gravada no olhar a espera.
Esperavas o quê, boa mulher?
A brisa do vento,
O nascer do pensamento,
O calor da tarde,
A presença dos filhos ausentes.
(Afinal o que sentes?)
Esperavas na mesma
porque a tua espera vinha de sempre:
estava-te no sangue da aldeia.
Germinava-te na ideia
como as sementes que deitavas à terra
com o mesmo carinho das tuas mãos escuras
acariciando as feridas leves dos teus filhos
limpas com o tacto dos teus lábios.
Hoje desabitaste a casa
que parece um deserto sombrio:
a porta fechou-se
e a tua espera está em ti,
mulher vestida de escuro.
JM (21.03.2011)
[Poema lido ontem na sessão da BMEL, "verso a verso se guarda a poesia na Guarda! Foi bom rever e aprender com bons amigos!]