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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ingratidão

 
 

A ingratidão é um vício dos animais

que nunca reconhecem

quanto as pessoas lhe dão.

E, como não têm coração,

facilmente esquecem

os benefícios das virtudes teologais.

 

Já os homens nunca são ingratos.

Esquecidos, transtornados, talvez!,

ignorantes de certos factos

que não convém lembrar,

esperando a sua vez

de conseguir dominar.

 

Tentam sempre espezinhar,

distorcer,

contrariar,

corromper,

mas ingratos, não!

Isso é para os animais

que agem sem coração!

 

Por isso dizia Herculano

que o melhor amigo do humano

é certamente … o cão!

 

18.03.2014

JM

INSPIRAÇÃO


 



Li o teu poema oblíquo de chuva, ó poeta!

e, nas asas do irreal,

parti deslizando

p'lo infinito aberto da tua poesia.

 



Imerso na densidade do porto,

passei de cor as velas da razão:

nos vultos das árvores banhei-me de sol

e nas águas sombrias de perfeição.

 



Enlevei-me no sonho que me deste

e, nos versos que geraste,

vi o cais lamacento

da vertical humanidade derrubada.

 



Quis-me fingidor a teu lado

mas escorreguei na lama do cais,

onde o Estio grita revoltado

a liberdade perdida jamais.

 



Passando de través pela rua

doirei a perfeição palpitante,

nas pedras da fresca calçada

onde a vontade rastejava delirante.

 



Senti.



Um laivo de génio passou.

Da minha voz - quase nada -

saiu este grito de mim.

 



J M

A noite da árvore

A árvore ergue os braços nus
e suplicantes
por um dia cheio de luz
e de nuvens faiscantes ...
 
E, no crepúsculo belo e atraente,
os candeeiros, pirilampos breves,
iluminam a mente sobressaltada
e persistente,
ávida de uma bela madrugada
plena de ideias, imaculada
de sonhos lindos e leves.
 
17.03.2016
Nenhuma descrição de foto disponível.
 
Foto de Carlos Adaixo.
 
 
 

42


16 de março de 1981 - 16 de março de 2021

 



Tão distante e tão perto.

Dia de nervoso miudinho. Esperava-me uma escola e umas turmas para aprender a ser professor. O autocarro que me levava à Portela de Sacavém, para mim, ia muito depressa. A Escola Preparatória Gaspar Correia ia ser o local do meu baptismo profissional. Gente linda do 5º e 6º anos esperavam-me curiosas: era o professor substituto até ao fim do ano.

E assim começou uma série de anos e de escolas. Primeiro na região de Lisboa, na Amadora e, anos mais tarde, na Guarda. Foi uma pequena peregrinação comparada com a que os candidatos de hoje realizam.

São anos de alguns desencantos, mas de muitas alegrias. Ver crescer pessoas e acompanhar esse percurso é uma experiência única e inolvidável. Ajudar nas aprendizagens e na vida é gratificante. Aprender continuamente com crianças e adolescentes contribui decididamente para que a vida ganhe sentido. E, assim, parece que foi ontem. Que ainda não passaram 40 anos. Porém, a verdade, é que já passaram. Mudou muito a Escola? Sim e não.

Sim, pois o sistema educativo teve que evoluir por causa das tecnologias e das ideias acerca das aprendizagens.

Não, pois o "material" que faz as escolas é feito de seres humanos que têm sempre muito a dar e receber.

Voltaria a fazer o mesmo percurso? Claramente. Apesar das condições actuais.

 

Fiquem as palavras do poeta:



Valeu a pena? Tudo vale a pena

se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

tem que passar além da dor.

(Fernando Pessoa)

Prece


 



Senhor, sinto-me hoje perdido:

já não há paz, não há sossego,

vivo na inquietude, desiludido

com o homem que só impõe o medo.

 



Do oriente ao ocidente tudo muda,

a fragilidade é nossa companheira,

a rapacidade é comum e pontiaguda,

a vida é efémera e passageira.

 



Que esperança, então, pode sobreviver

neste universo corrupto em decadência?

O dinheiro, as finanças e o poder

vão destruindo os limites da decência.

 



Resta a esperança de que a chama vinda

das cinzas leves da Fénix imolada

renasça a ordem e mantenha ainda

a hipótese da ressurreição desejada.

 



J M 

...

Tarde

 

Hoje a tarde chovia

lentamente sobre a serra:

quase lágrimas de lua.

 

Da terra

rescendia

o aroma tão belo

a chão molhado

e parece que o dia

fertilizava o semeado!

 

O cuco cantava genuinamente

e respondia-lhe a poupa

fazendo uma sinfonia, naturalmente...

No corpo começava a sentir-se a roupa

molhada não do suor

mas das gotas da lua cheia de amor.

 

JM

“Luna”

“Luna”

 

Nos raios da lua quase cheia

descem as nostálgicas saudades,

ribeiras de águas cristalinas

inundando o corpo de idades

insuspeitadas, de jaspe e coralinas,

de retumbante e clara ideia.

 

E a prata das saudades infindas

mitiga a sede da água da lua

e deixa projectadas em cada rua

as figuras perdidas, leves e lindas

que o amor marcou a fogo

quando imberbe brincou: mago jogo!

 

E ri-se lá do alto, frígida e bela,

a lua, essa louca feiticeira,

refletindo na vidraça da janela

o que ficou imerso no coração

de um quarto crescente: primeira,

indelével, rebelde e assimétrica paixão.

 

 

JM

Pilar

Um pilar apagado
sustenta o céu cinzento
entrecortado
por olhos de vento
espreitando
desperto entre nuvens
entrelaçando
os dedos divinos
sistinos
(de Miguel Ângelo).
 
Sentado no banco sombrio
Deus prepara a recriação
de outro Adão
mais humilde e sóbrio.
 
J M 10.03.2017
 

Nenhuma descrição de foto disponível.

[Foto de Carlos Adaixo]

Mulheres
















 



Há mulheres que cheiram a terra



e a maternidade.

 



Há outras que cheiram a serra



e a fecundidade.

 



Há as que misturam a argila



com o rosmaninho.

 



Há as que fecundam a vida



com um simples carinho.

 



JM












 

























 




 













MULHER


 



Pega numa braçada de flores e leva-as contigo

e quando chegares ao pé dela

se tiveres vontade de a desdizer

desfolha uma a uma as belas rosas:

bem te quero, bem te quero, bem te quero ...

 



Abre depois um largo sorriso amigo

e mostra-lhe ser a única, ela,

capaz de sempre te compreender;

oferta-lhe palavras amorosas:

bem te quero, bem te quero, mais te quero ...

 



E lembra-te que é tua irmã

tua amada, tua princesa;

amima-a cada bela manhã

e mantém a chama acesa

da verdade, do amor e do bem:

nunca esquecendo sua missão: Mãe!

 



J M