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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

SER


 



Ser poeta não é ondular montanhas,

nem sequer pôr janelas na alma;

 



é abrir postigos à imaginação

subir às leves montanhas da mente

 



medir a esquisita intensidade

das palavras meticulosamente escolhidas.

 



J M

Esperança


A noite cai pálida e transparente

por detrás de uma vidraça de loucuras

onde os anjos brincam de crianças

e os homens de tristezas e venturas.

 



O homem das estrelas cai oblíquo

no paço das canções por inventar

e nas ruas da cidade o orvalho

cai por entre as gotículas de luar.

 



O sonho das crianças surge ingente

no ar aberto e limpo da madrugada

e sente-se pairar um quase - tudo

onde a satisfação surge realizada.

 



Um novo dia, nova primavera

assoma forte no branco alvorecer

e se as esperanças não forem vãs

o mundo vai voltar a amanhecer.

 



JM

...


Estranho-te no cansaço de seres

a permanente presença silenciosa

deitada na laje nua do pensamento

onde impávida e calma permaneces

nas ondas límpidas da tarde primaveril.

 



E se não estivesses? Se o teres

preferência de mim, já não fosse imperiosa

necessidade? Seria acaso um tormento?

 



Calma e impávida permaneces

alheia à vontade do meu corpo, natural …

 



(Oxalá assim seja.) E o teu desejo

te traga na vontade estranha de um beijo

roubado ao pôr do sol imponente

que a tarde primaveril desenha no poente.

 



JM

Inopinadamente


Inopinadamente

a tarde deixou-se dominar

pelos gatos selvagens;

 

inadvertidamente

a andorinha poisou

no resto do fio telefónico

que corta os ares dos subúrbios

da cidade descansada;

 



quando o gato saltou

apanhou apenas a cidade

pois a andorinha exímia

acordara a tempo

avisada pela chamada do destino

na inopinada linha telefónica.



 



J M

“A POESIA É O MISTÉRIO DE TODAS AS COISAS”


 



A poesia é inútil, dizem alguns maldispostos e desagradados com a vida. Enganam-se. A poesia é a vida. Está todos os dias ao nosso lado. Partilha os nossos êxitos e as nossas desilusões. Aplaude-nos as alegrias mais leves ou as mais intensas. Reforça-nos o ânimo quando as horas são mais amargas. Caminha connosco cada segundo das 24 horas da plenitude diária. Acama-se quando nos acamamos. Sacia-se quando nos saciamos. Mas também anda esfomeada quando as palavras nos fogem e nos fazem negaças. Só temos de saber dar por ela e aproveitar o que nos oferece.



A poesia é tudo o que quisermos. É o desejo que faz nascer a esperança. É a esperança que alimenta a vida. É a vida que cada dia nos abraça. É o abraço que nos mima e nos acalenta. É o calor que anima a alma. É a alma que nos faz amar. É o amor que nos faz crescer. É o crescimento que nos amadurece e nos ajuda a suportar a realidade prosaica quando a angústia nos cerca. Mas também é o grito de revolta, a rebeldia que faz avançar o mundo, a ousadia que arrisca a juventude.



A poesia não é um Dia: são 365 dias de esperança.



21.03.2014 JM

P o e s i a


 



as palavras, traiçoeiras,

queriam dizer coisas negativas

mas hoje é dia de esplendor

por isso desde as primeiras

têm de estar vivas

têm de soletrar A M O R

 



porque hoje é dia de ser

“maior que os homens”, beijar,

ir para além de nós, da vida;

doar cada minuto, merecer

a oferta de poder respirar

cada palavra esclarecida.

 



J M

Sinestesia
















Embarquei nas brisas da tarde

e aspirei os aromas vespertinos,

 



na calma, ternamente envolvente,

naveguei ao sabor dos destinos

 



e o olfacto, lentamente, sem alarde,

assumiu o verão quase presente.

 



Os sentidos engolfaram-se em roldão

envolvendo tudo em sinestesias

 



e a pele aveludada da tua mão

trouxe-me à serra intensas maresias.

 



JM











 





 




























 




 













...


Dia de saudade. Dia de memória.

Estás connosco pelo que nos deixaste em herança. O saber de experiências feito. A educação que não te deixaram acabar, mas que nunca descuraste ao longo da vida. O exemplo. Este foi tudo porque é o que nos distingue como teus filhos.

Amaste a terra que chamaste tua e que trabalhaste com esperança. Tu deste-lhe vida e ela recompensou-te com belas colheitas. Trabalhaste com esforço. Arduamente.

Depois, um dia a saúde traiu-te. O esforço tinha sido demasiado. O corpo negou-se a viver mais. Deixaste-nos e a saudade plantou-se-nos na alma. E enraizou e continua a produzir frutos. Em nós, nos teus netos. Na sociedade.

É Março. Parece Primavera. A natureza renasce em pujança.

A saudade mora cá bem dentro da nossa alma. E tu permaneces na memória agradecida.

O dia é teu. Ainda.

 



J M – 2015

Pai


 



As tuas mãos morenas

calosas do saibro da serra,

amansadas na solidão

da luta com inculta terra...

 



O teu rosto escurecido

de vigílias e de cargas,

sempre sereno e lúcido,

em horas doces e amargas...

 



O teu suor destilado

em seiva, húmus do corpo teu

é alimento para os filhos

que agradeces ao Céu.

 



E, no fim dos duros dias,

no secreto do teu lar,

mesmo exausto e sonolento

carinho ainda sabes dar.

 



Pela vida, pelo amor,

pelo carinho, pela ternura,

pelo tempo, pelo suor,

pelas letras, pela cultura,

por tudo o que de ti sai

tudo te agradeço, PAI!

 



J M

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