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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

NÃO


 



Não façam chorar as crianças.

Deixem florir as rosas,

não lhe esmaguem as pétalas.

 



Não esmaguem as pétalas às rosas

que as crianças precisam de florir!

 



J M – 08.01.2017

Pedaços


 



De espaços se faz a vida. E de tempos.



Razões forçosas originam a ausência.



Horas promovem a separação.

 



Emergentes emoções lívidas caminham

abstratas e ingratas

pelas vielas travessas da cidade-velha.

 



Angústias pardas velam o tempo de existir

para além de nós.

 



Árduas tarefas excluem a contemplação do luar,

a contemplação da lua cheia

perfeita na sua luz refratária.

 



E, nos caminhos da noite,

a vida aparece translúcida.



Ao luar.



 

J M – 06.01.2017

Ausência

... é um vazio que se forma, uma ausência que se intensifica paulatinamente. são as saudades que aumentam na proporção da distância. embora, depois, o tempo mitigue a dor, insensivelmente e sem darmos por isso, sentimos apenas que nos falta algo. que perdemos uma essência, um carinho, um amparo, um encosto, uma razão. mas ... há sempre a presença invisível sim, mas palpável quando percorremos a casa habitada, quando viramos a terra tratada, quando cheiramos os sítios comuns. e assim quem parte vive em nós em cada momento, em cada visita, em cada expiração. sempre e para sempre.

 

09.01.2018

 

J M

Saudade


 



Esta sensação estranha de perda irrecuperável

arrastou-me o dia melancolicamente

na saudade de um tempo passado.

 



A lembrança da tua presença carinhosa

da tua maternal atenção

amparam-me hoje na distância.

 



Estás ainda na memória

estás ainda no sentimento

estás ... e sempre estarás!

 



 

JM

Rio da vida


 



Foi num dia assim de um janeiro distante

que o rio da tua vida brotou.

Da frieza circunstante

apareceu

cresceu

e mais tarde desaguou

noutros cinco rios mais

que hoje te continuam e recordam.

 



Sem dúvida – houve vários sinais –

unanimemente concordam

que a tua água foi luz

para seus periclitantes cursos.

Amparaste os seus percursos,

aliviaste a sua cruz,

e deste-lhes a vida também.

 



Obrigado, mãe!



09.01.2015



J M

Sensações

Com o fim do dia as sensações

recolhiam ao silêncio recatado

que a noite calma propicia.

 

Ondas sucessivas, convulsões,

primícias de corpo desejado,

misto de regeneradora alegria

 

que a noite reporá na ansiada calma

em sonhos de fundada esperança.

Novo dia, leve renovação da alma!

 

(07.01.2014)

JM

Sensações


 



Sombras descendo

rápidas pelas veredas

apagam os rastos

marcados no chão

dos corpos ansiosos e vadios

embrulhados na folhagem outonal.

 



Pés sujos arrastados

demorodamente pelas gredas

vidas reduzidas ao coração

olhos satisfeitos e luzidios

realização plena, excepcional.



 

(07.01.2014)

 

JM

Poema

 
 

Um poema é vida: avança

sem medo

e em cada penedo

de serra temerosa e altaneira

encontra a esperança

do recomeço.

 

E ao chegar ao cume do cabeço

(obstáculo transformado em verso)

a bonança prometida

em cada vale apazigua,

dos sentidos, a ansiedade.

 

Porém, renovado o desejo,

como quem recebe um amoroso beijo,

a profusão de uma estrofe

constrói-se dia a dia

na chama da palavra escolhida.

 

Feita a selecção

e escrito verso a verso

o poema retrata a perfeição

da imperfeição humana seu reverso.

 

04.01.2015

J M

CaduCIDADE

 
Está serena a tarde:
desprendem-se-lhe frias
as palavras
que se acomodam
nos lábios simpáticos
do vento nordeste.
 
Lá para o alto, no castelo,
luzem ainda os raios preguiçosos
da lua nascente
mas breve virá o gélido nevoeiro
e destruirá a lucidez da noite incipiente.
 
E as palavras, afinal, dirão apenas
aquilo que o ouvinte distraído
com o ecrã cintilante
do sedutor telemóvel
o deixar perceber:
as palavras humilhadas
fugirão com o gélido nevoeiro
na ignorância imposta
pelas novas seduções.
 
J M – 2.1.2017
*Foto de Carlos Adaixo!
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