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estavam a cozer em fogo lento
os ódios
naquele lugar marcado
por um destino fatal
veio um fogo-fátuo
em chama
sorrateira e leve
e incendiou tudo
i-ne-xo-ra-vel-men-te.
Sento-me nas asas do vento
vespertino,
inalo aromas insuspeitos da tarde
desvanecida
e no cais do tempo
embarco na nau de Ícaro
rumo a destino ignoto.
(Pode ser S. Pedro de Rio Seco!)
Embrenho-me nos bosques da Estrela
e procuro-me no meio do turbilhão
mas a Aparição de mim a mim mesmo
leva-me apenas
à sabedoria existencial de estar vivo
de ser pensante!
Subo as fragas de S. Martinho
e reencontro a luta com o transcendente
bebo a seiva, o mosto, o vinho
e revejo-me só, no imanente.
Titãs em luta permanente
encontro o opositor
continuamente
frente a mim
num campo onde se vislumbra a dor
de ser e sofrer até ao fim.
Preciso de uma mão amiga
estendida na amarga solidão
que me passe os dedos carinhosos
por minha alma em fadiga
sequiosa de afeição
e doutros bens preciosos.
Preciso das tuas palavras
envoltas em doçuras sem ironia
com recheio de chocolate
daquelas que tu lavras
na lua cheia do dia
em que o sol nunca bate.
Preciso da tua amizade
sem peias nem atilhos
baseada na compreensão,
na entrega, na felicidade,
que os pais outorgam aos filhos
do fundo do coração.
tenho comigo um silêncio
repousante
um silêncio quente e frio
ansiante
tenho-o no centro de mim
anquilosado
mesmo que o procure não o sei
em qualquer lado
gosto dele assim contraditório?
talvez não
pode estar no centro da cabeça
mas fugiu do coração
triste tempo triste sina triste lua
onde a alegria?
nem paz nem furor nem alma
onde o sol onde o dia?
Abrir, lavrar o coração
patenteá-lo veia a veia
e mostrar a todos que a razão
essa louca, é quase sempre feia.
Gritar ao mundo as loucuras
da sociedade ingrata e injusta
fechando-se a todas as ternuras
desprezando tudo o que custa.
Dizer ao mundo o meu nojo
p’lo ódio, opressão, violência
bonecos articulados com merda no bojo
mas se dizem senhores da ciência.
vi as planícies imensas,
as fileiras de mulheres de negro vestidas,
a lama repleta de clássica beleza,
a poesia vestida de luz e de certeza.
De Eugénio
revisitei as mãos envoltas em frutos,
os silêncios desembocados na foz dos afluentes,
os dinheiros que os amantes não tinham,
o rosto precário de uma prosa poética,
e o ostinato rigore dos seus versos.
ainda vou da Póvoa até à Foz,
ainda faço da palavra o meu lema,
ainda ouço a sua límpida e clara voz,
ainda me renovo no fabuloso do poema.
A cidade é um chão de culturas variadas
é fermento corado na masseira de suores
e vida fertilizante poema de dias melhores
pastor de muitas vidas rebanho de mil cabeças
esperanças semidesfeitas glórias bem apregoadas.
A cidade é projecção da luta continuada
todos os dias renasce na certeza do entardecer
porém ao alvorecer quando o sol se levanta
há uma angústia latente no coração dos homens.
A cidade constroi malícia com bondade à mistura
é antro amargo / solidão ou bar/café de frescura;
lógica entrelaçada nos esgares da paixão
onde perdura a noite na aurora do coração.
A urze bravia vergou.
Da paisagem transmontana
sólida, granítica, humana
ergueu alta a voz: cantou!
Rectilínea, áspera, dura,
inflexível na defesa dos valores,
a vida forjou-o nas dores
graníticas da Galafura.
Litania murmurada do povo
vozes ancestrais, avatares,
canto da terra árdua, em altares
erguidos nas serranias em renovo.
A urze bravia vergou.
Mas, se à natureza cedeu
a raiz de todo não secou:
o espírito, superior, venceu.
Quando as pombas forem livres como as andorinhas,
quando às águias não invejarem as louvaminhas;
os leões pastarem junto com as ovelhas
e as espadas forem transformadas em relhas;
quando os homens destruírem as cadeias,
e não germinarem más e ruins ideias;
quando tudo isto suceder
e só o bem acontecer
o reinado do amor começará,
qualquer profecia se cumprirá.
Apetece-me morder o chão das palavras,
rasgar-lhe as veias;
vê-las tremer de agonia
prostradas aos pés de mim.
Voar no espaço com elas,
percorrer o tempo eterno,
gemer na hora incerta
e gastar até ao âmago
o inegastável segundo.