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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Diária


 



Há perfumes matutinos

no ar fresco da manhã

há chilreios e há trinos

na voz dos passarinhos

bela, alegre e louçã.

 



Traz gravada, lá no fundo,

a beleza de dias de primavera,

os sonhos de um sono profundo

com alguns desejos imersos

no começo de uma nova era.

 



J M

Aprendiz de feiticeiro


Lancei as palavras ao papel



num sentido horizontal

mas ficou desorganizado

o texto piramidal.

 



A montanha pariu um rato,

as palavras ficaram soltas,

o sentido nem apareceu

nas folhas das árvores revoltas.

 



Acariciei a semântica,

sobraram erros de sintaxe,

das orações confundidas

fugiu inclusive a “praxe”.

 



Já figurinhas de estilo

nem cheirá-las, nem vê-las.

Pobrezinho do escriba!

E sonhava ele estrelas!

 



J M

Lábios


Lábios rubros de mulher



ávidos de sensações,

desejos quentes de querer,

promessas de corações

 



paixão rubra, rubra cor

desafios de sonho irreais,

vontade, garra, sabor,

ânsias de ser muito mais.

 



JM

Teus olhos ...


Há nos teus olhos um mar de ternura



que esparges sobre mim

em cada hora que o dia nos traz.

 



As suas ondas submergem-me

num banho louco de magias e consolações

e as marés, alternando,

enlanguescem-me,

levando-me para mundos irreais,

para sonhos encantadores e magos

onde os teus se irmanam aos meus.

 



Aí, tudo desaba em turbilhões

e voamos por mundos feéricos

de luz e de cor

em aventuras paranoicas

de paixões e desvelos,

amores e devaneios,

impossíveis, inenarráveis.

 



As histórias que os teus olhos me contam!

 



J M

E houve ...


E houve um teu sorriso



na meiguice do vento sul

disperso, leve e impreciso

que tornou o cinzento em azul

 



E, em seguida, a gargalhada

irrompeu impetuosa e necessária,

flor de desperta madrugada,

fantástica, muda, extraordinária

 



E houve o teu corpo ainda

impulsivo, agitado e sedutor

rodopiando naquela dança linda

 



Depois ... bem, depois ... o amor

realizou-se naquela tarde infinda

numa gargalhada corpórea, indolor!

 



J M

Nugae*


 



O raio de luar pousava suavemente

na página indolente

de um livro abandonado.

 



E, fragmento de simples prosa,

misto de cravo e rosa,

o teu sorriso iluminado



fazia inveja à lua esplendente,

fria, distante, inclemente.

 



Que beleza natural

Que frescura celestial!

 



JM

 

(*Ninharias)

Às vezes ...

 

Às vezes é preciso mesmo sem vontade

erguer a cabeça encarar a verdade

lutar por um novo dia sem tristezas

lutar por novas ideias novas belezas.

 

Às vezes é preciso ser optimista

pôr de lado a sombra ominosa

dar loas ao sol ser trompetista

de uma música singular e fabulosa.

 

Cantar a vida cantar cada hora

ser sincero ser mago ser verdadeiro

e viver num sempiterno agora

 

como se fosse o sentir primeiro

de cada manhã sempre em aurora

e não pensar no suspiro derradeiro.

 

JM

Nada


 



Nem sílabas, nem fonemas,

nem palavras, nem grafemas

apenas o vento forte

do norte

me traz o silêncio dos poemas que tu lavras.

 



Tudo se desmorona, enfim,

na solidão da tarde em vendaval

e cai gravemente em mim

uma solene angústia existencial

expressa em breves e fugazes palavras.

 



J M

Periferia

 

Ando há dias na periferia.

De quê? Na periferia.

 

Talvez a pusesse a rimar com alegria

mas a verdade é que não:

nem com alegria, nem com coração.

 

Também podia rimar com azia!

Aí sim já havia forte sintonia.

O pior era a posterior indigestão.

 

E se rimasse com chuva ou neve?

A sensação seria muito breve:

ou molhava ou a neve se desfazia.

 

Afinal com que rima periferia?

Depende. Se for minha, com desilusão.

Se for dos outros, com perdição.

 

JM

Tempo

Nenhuma descrição de foto disponível.
O tempo foge-me inutilmente,
Escoa-se. Escorre. Gasta-se.
 
Deixá-lo …
Engana-se, pensando que me leva
na voragem contínua dos instantes!
 
Puro engano!...
Sou quem sou.
 
Vivo cada instante
como se fosse o próximo,
como se fosse o último.
 
Mas … o tempo é todo meu.
 
J M

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