Espero a tua vinda a tua vinda, em dia de lua cheia.
Debruço-me sobre a noite a ver a lua a crescer, a crescer...
Espero o momento da chegada com os cansaços e os ardores de todas as chegadas...
Rasgarás nuvens de ruas densas, Alagarás vielas de bêbados transformadores. Saltarás ribeiros, mares, relevos... - A tua alma não morre aos medos e às sombras!-
Mas..., Enquanto deixo a janela aberta para entrares, o mar, aí além, sempre duvidoso, desenha interrogações na areia molhada...
Quando à noite desfolho e trinco as rosas É como se prendesse entre os meus dentes Todo o luar das noites transparentes, Todo o fulgor das tardes luminosas, O vento bailador das Primaveras, A doçura amarga dos poentes, E a exaltação de todas as esperas.
ter-te suspensa do meu lume na fogosa boca o ardume a explodir tu ardida e intacta sonho e nuvem voz exacta um soltar de aves em pânico na relva do olhar
Passo a noite a sonhar o amanhecer. Sou a ave da esperança. Pássaro triste que na luz do sol Aquece as alegrias do futuro, O tempo que há-de vir sem este muro De silêncio e negrura A cercá-lo de medo e de espessura Maciça e tumular; O tempo que há-de vir - esse desejo Com asas, primavera e liberdade; Tempo que ninguém há-de Corromper Com palavras de amor, que são a morte Antes de se morrer.
As pessoas sensíveis não são capazes De matar galinhas Porém são capazes De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira À roupa do seu corpo Aquela roupa Que depois da chuva secou sobre o corpo Porque não tinham outra O dinheiro cheira a pobre e cheira A roupa
Que depois do suor não foi lavada Porque não tinham outra
«Ganharás o pão com o suor do teu rosto» Assim nos foi imposto E não: «Com o suor dos outros ganharás o pão»
Ó vendilhões do templo Ó construtores Das grandes estátuas balofas e pesadas Ó cheios de devoção e de proveito
A minha poesia é assim como uma vida que vagueia pelo mundo,
por todos os caminhos do mundo, desencontrados como os ponteiros de um relógio velho, que ora tem um mar de espuma, calmo, como o luar num jardim nocturno,
ora um deserto que o simum veio modificar, ora a miragem de se estar perto do oásis, ora os pés cansados, sem forças para além.
Que ninguém me peça esse andar certo de quem sabe o rumo e a hora de o atingir, a tranquilidade de quem tem na mão o profetizado de que a tempestade não lhe abalará o palácio, a doçura de quem nada tem a regatear, o clamor dos que nasceram com o sangue a crepitar.
Na minha vida nem sempre a bússola se atrai ao mesmo norte. Que ninguém me peça nada. Nada. Deixai-me com o meu dia que nem sempre é dia, com a minha noite que nem sempre é noite como a alma quer.