Jesus expira sobre a montanha sagrada Pregados ao Madeiro, os braços magros, nus. Treme o solo, e do céu cai a noite fechada. O Sol não manda à Terra uma réstia de luz.
Tremendo em convulsões, de lágrimas banhada, Madalena soluça, abraçando-se à cruz, Enquanto a Mãe de Deus, muda, petrificada, Hirta de dor, contempla o corpo de Jesus.
Ante a morte de um Deus, em fúria os elementos Rasgam raios o espaço e ribomba o trovão, E um clamor de vingança ecoa aos quatro ventos.
E entre tanta revolta e tanta maldição, Jesus lança em redor, sem ódio e sem lamentos, Seu compassivo olhar de infinito perdão!
Eu escrevo versos ao meio-dia e a morte ao sol é uma cabeleira que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo Estou vivo e escrevo sol Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam no vazio fresco é porque aboli todas as mentiras e não sou mais que este momento puro a coincidência perfeita no acto de escrever e sol A vertigem única da verdade em riste a nulidade de todas as próximas paragens navego para o cimo tombo na claridade simples e os objectos atiram suas faces e na minha língua o sol trepida Melhor que beber vinho é mais claro ser no olhar o próprio olhar a maravilha é este espaço aberto a rua um grito a grande toalha do silêncio verde
Os versos mais pobres canta-os o melro na sua desgraça, aqueles que resistiram a um silêncio apedrejado e se tornaram bocados de saudade. É também negra a respiração do melro, dela chega o fraco rumor da noite se o dia se gasta no bico ansioso. O melro aprende de baga em baga. O coração do melro senta-se à mesa da primavera rodeado de canções. E canta com a sabedoria das sementes, ergue-se da tristeza com uma cítara que lhe oferecem as folhas. O olho árduo e jovem pertence à vertigem da tarde, torna infinita a alegria das árvores de fruto. E ama-as. Com um amor que Deus não conseguiu dar a outro pássaro. Canção pura, fria, e pobre, é a do melro. A do canto alheio. Aquele que prolonga os limites da tristeza e enlouquece as mãos, a pele, a boca dos amantes, esse que faz enlouquecer o próprio melro quando vagueia alucinado à procura, no céu, da inesperada luz que faz florir as cerejeiras.
Havia um vaso de perfume em barro branco e a mulher que se colocou de gatas radiante por poder exibir a farta cabeleira Mas ao quebrá-lo daquele modo aos pés do hóspede misturou o nardo imprevistamente com o cheiro de uma mulher que chora
O anfitrião especado observava, sem pronunciar um som o mestre, porém, olhou-a com os seus olhos de cão meigo a vagabundagem e a pobreza eram direitos de quem entrou e saiu das trevas para fazer da infelicidade um uso
Recordarei sempre aquele momento perfeito fio de prumo que indica o centro da vida.
Viesses tu, Poesia e o mais estava certo. Viesses no deserto, viesses na tristeza, viesses com a Morte...
Que alegria mereço, ou que pomar, se os não justificar, Poesia, a tua vara mágica?
Bem sei: antes de ti foi a Mulher, foi a Flor, foi o Fruto, foi a Água... Mas tu é que disseste e os apontaste: - Eis a Mulher, a Água, a Flor, o Fruto. E logo foram graça, aparição, presença, sinal...
(Sem ti, sem ti que fora das rosas? Mortas, mortas pra sempre na primeira, mortas à primeira hora.)
Ó Poesia!, viesses na hora desolada e regressara tudo à graça do princípio...
O mais singular livro dos livros É o Livro do Amor; Li-o com toda a atenção: Poucas folhas de alegrias, De dores cadernos inteiros. Apartamento faz uma secção. Reencontro! um breve capítulo, Fragmentário. Volumes de mágoas Alongados de comentários, Infinitos, sem medida. Ó Nisami! — mas no fim Achaste o justo caminho; O insolúvel, quem o resolve? Os amantes que tornam a encontrar-se.