Nasce outra vez em mim a vida.
Devagar,
Como um gomo de vide a rebentar,
Cobre de verde a cepa ressequida.
É um fruto que acena?
É uma flor que há-de ser?
-Fui eu que disse que valia a pena
Viver!
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Um dia é preciso parar,
a vida exige uma pausa.
O silêncio sabe-nos bem. Olhar
para trás e saber a causa,
inventariar o tempo. Esperar.
Esperar o quê? Tanta coisa:
às vezes o que merecemos
outras vezes o que não queremos;
às vezes o que desejamos
outras vezes o que evitamos;
às vezes a alegria
outras a acre azia; …
E quem melhor que a noite,
secretária de meus cansaços,
que nos silêncio nos acoite
no aconchego dos seus braços?
Há dias em que temos de parar!
J M
[Nada a fazer! Memorizações mandam.]
[Foto de Carlos Adaixo]
Era já noite cerrada,
Diz o filho: "Oh minha mãe,
Debaixo d'aquela arcada
Passava-se a noite bem!"
A cega, que todo o dia
Tinha levado a andar,
A tais palavras do guia
Sentiu-se reanimar.
Mas saltam dois cães de gado,
Que eram como dois leões:
Tinha-os à porta o morgado
Para o guardar dos ladrões.
Tornam os pobres à estrada,
E aonde haviam de ir dar?
Ao palácio da tapada
Onde el-rei ia caçar.
À ceguinha meia morta
Torna o filho: "Oh minha mãe,
Ali no vão de uma porta
Passava-se a noite bem!"
- Se os cães deixarem... (diz ela,
A triste n'um riso amargo),
Com efeito a sentinela:
- "Quem vem lá?... Passe de largo!"
Então ceguinha e filhinho,
Vendo a sua esperança vã,
Deitaram-se no caminho
Até romper a manhã!...
João de Deus