ACRVILAMENDO
O meu amigo Luís Soares pediu-me um pequeno texto de opinião sobre leituras. Pode ser lido aqui.
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O meu amigo Luís Soares pediu-me um pequeno texto de opinião sobre leituras. Pode ser lido aqui.
“A POESIA É O MISTÉRIO DE TODAS AS COISAS” (Garcia Llorca)
A poesia é inútil, dizem alguns maldispostos e desagradados com a vida. Enganam-se. A poesia é a vida. Está todos os dias ao nosso lado. Partilha os nossos êxitos e as nossas desilusões. Aplaude-nos as alegrias mais leves ou as mais intensas. Reforça-nos o ânimo quando as horas são mais amargas. Caminha connosco cada segundo das 24 horas da plenitude diária. Acama-se quando nos acamamos. Sacia-se quando nos saciamos. Mas também anda esfomeada quando as palavras nos fogem e nos fazem negaças. Só temos de saber dar por ela e aproveitar o que nos oferece.
A poesia é tudo o que quisermos. É o desejo que faz nascer a esperança. É a esperança que alimenta a vida. É a vida que cada dia nos abraça. É o abraço que nos mima e nos acalenta. É o calor que anima a alma. É a alma que nos faz amar. É o amor que nos faz crescer. É o crescimento que nos amadurece e nos ajuda a suportar a realidade prosaica quando a angústia nos cerca. Mas também é o grito de revolta, a rebeldia que faz avançar o mundo, a ousadia que arrisca a juventude.
A poesia não é um Dia: são 365 dias de esperança.
21.03.2014 JM
Como se aproxima o dia da poesia se houver interessados em adquirir, informo que chegaram alguns exemplares.
Senhor, sinto-me hoje perdido:
já não há paz, não há sossego,
vivo na inquietude, desiludido
com o homem que só impõe o medo.
Do oriente ao ocidente tudo muda,
a fragilidade é nossa companheira,
a rapacidade é comum e pontiaguda,
a vida é efémera e passageira.
Que esperança, então, pode sobreviver
neste universo corrupto em decadência?
O dinheiro, as finanças e o poder
vão destruindo os limites da decência.
Resta a esperança de que a chama vinda
das cinzas leves da Fénix imolada
renasça a ordem e mantenha ainda
a hipótese da ressurreição desejada.
J M 03.2017
(Foto de Carlos Adaixo)
Um pilar apagado
sustenta o céu cinzento
entrecortado
por olhos de vento
espreitando
desperto entre nuvens
entrelaçando
os dedos divinos
sistinos
(de Miguel Ângelo).
Sentado no banco sombrio
Deus prepara a recriação
de outro Adão
mais humilde e sóbrio.
J M 10.03.2017
Onde estou, espero por ti e amo-te. Olho para ti, e o meu olhar
beija-te. Canto, e é a ti que canto. O destino costuma sorrir-me
com assombro, agora com um recado: aquele que mais ama é sempre mais feliz. Entretanto, sinto que o meu corpo, que tem a idade do mundo, comemora também a alegria da descoberta do fogo. E isso diz-me que, provavelmente, já te amo desde o tem-
po em que as estrelas ainda não repetiam o teu nome.
*
Joaquim Pessoa, in "Ano Comum".
Deixei-me levar p’la aventura do medo,
vivi experiências desertas de fugas,
fechei as portas à vida e à morte,
tranquei-me por dentro do desespero.
Vigiei pedaços de aventura louca,
corri paixões à espera de lucro,
no fim de tudo não ficou nada
porque a ânsia era desmedida.
Gastei pedaços à espera do tempo
mas este fugiu para fora de mim
e na tarde infinita do sábado imenso
encontrei-me só num mundo-penedo.
Louvei aos montes a sua grandeza
cantei à vida a grande desgraça,
perdi-me tonto na hora da natureza:
fiquei parado na aventura do medo.
J M