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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Língua

palavras1.jpg

 

A língua é um rio.

 

Fluida, escorre constantemente.

Abundante ou carente

é classizada,

potencializada,

fragmenta-se no real.

Nunca se esgota em paradigmas …

 

Rebelde,

escapa às balizas formais.

Ora se acalma

nas refregas clássicas,

ora se agita

nas lutas modernistas.

 

(Afinal Campos e Camões

são irmãos literários

exprimindo emoções

por caminhos vários.)

 

J M 04.01.2017

Frágil

Ela é loira por opção

e arranja namorados de ocasião.

 

Senta-se na esplanada do café avenida

fala ao telemóvel, mostra-se comovida.

 

Diariamente vende a sua imagem

aperaltada p’ra turista ver,

mas é apenas camuflagem

pois tem defeitos a esconder.

 

Arrasta os vagarosos dias

pelas largas avenidas,

porém às noites, sem alegrias,

anda perdida na lua

dissimulando aparências,

insuspeitadas vivências,

e inconfessáveis vidas.

 

J M - 03.01.2017

Caducidade

torre de menagem - Carlos Adaixo.jpg

 

Está serena a tarde:

desprendem-se-lhe frias

as palavras

que se acomodam

nos lábios simpáticos

do vento nordeste.

 

Lá para o alto, no castelo,

luzem ainda os raios preguiçosos

da lua nascente,

mas breve virá o gélido nevoeiro

e destruirá a lucidez da incipiente noite .

 

E as palavras, afinal, dirão apenas

aquilo que o ouvinte distraído

com o ecrã cintilante

do sedutor telemóvel,

o deixar perceber: as palavras humilhadas

fugirão com o gélido nevoeiro

na ignorância imposta

pelas novas seduções.

 

J M – 2.1.2017

Projecto

Se em cada hora deste ano,

na caminhada diária,

desfizermos um engano

 

acharemos na soma final

uma conta extraordinária

uma alegria louca e divinal.

 

J M - 01.01.2017

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