![palavras1.jpg palavras1.jpg]()
A língua é um rio.
Fluida, escorre constantemente.
Abundante ou carente
é classizada,
potencializada,
fragmenta-se no real.
Nunca se esgota em paradigmas …
Rebelde,
escapa às balizas formais.
Ora se acalma
nas refregas clássicas,
ora se agita
nas lutas modernistas.
(Afinal Campos e Camões
são irmãos literários
exprimindo emoções
por caminhos vários.)
J M 04.01.2017
Ela é loira por opção
e arranja namorados de ocasião.
Senta-se na esplanada do café avenida
fala ao telemóvel, mostra-se comovida.
Diariamente vende a sua imagem
aperaltada p’ra turista ver,
mas é apenas camuflagem
pois tem defeitos a esconder.
Arrasta os vagarosos dias
pelas largas avenidas,
porém às noites, sem alegrias,
anda perdida na lua
dissimulando aparências,
insuspeitadas vivências,
e inconfessáveis vidas.
J M - 03.01.2017
![torre de menagem - Carlos Adaixo.jpg torre de menagem - Carlos Adaixo.jpg]()
Está serena a tarde:
desprendem-se-lhe frias
as palavras
que se acomodam
nos lábios simpáticos
do vento nordeste.
Lá para o alto, no castelo,
luzem ainda os raios preguiçosos
da lua nascente,
mas breve virá o gélido nevoeiro
e destruirá a lucidez da incipiente noite .
E as palavras, afinal, dirão apenas
aquilo que o ouvinte distraído
com o ecrã cintilante
do sedutor telemóvel,
o deixar perceber: as palavras humilhadas
fugirão com o gélido nevoeiro
na ignorância imposta
pelas novas seduções.
J M – 2.1.2017
Se em cada hora deste ano,
na caminhada diária,
desfizermos um engano
acharemos na soma final
uma conta extraordinária
uma alegria louca e divinal.
J M - 01.01.2017