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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

...

Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,
arrastados no giro dos tufões,
Levados, como em sonho, entre visões,
Na fuga, no ruir dos universos...

E eu mesmo, com os pés também imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...

Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo,

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem.

Antero de Quental, in "Sonetos"

Árvore antiga

Aquela árvore antiga

a cuja sombra brincávamos,

crianças incautas,

hoje perdeu o vigor

e os braços mal seguram os pardais

e as raízes já não bebem

a linfa diáfana do ribeiro.

 

Espantalho rígido

apenas amedronta os piscos

quando, no inverno, o vento respira

ofegante das nortadas gélidas.

 

A infância fugiu também

arrastada nos temporais da vida

e o que fica são felicidades ambíguas,

de uma floresta decadente

deteriorada pelas esperanças amagadas,

pelos rigores do frígido inverno,

pelos rigores do tórrido verão.

 

E se assim é a vontade das Parcas

 - crianças adulteradas –

colhamos o momento,

a esperança e a moderação.

 

J M