No silêncio da ribeira
jaz o resto da brincadeira
que a criançada armou
durante a tarde inteira
em que o pião rodou.
Mas o cair da noite
e o escuro vespertino
fizeram perder o tino
e não há quem se afoite
a procurar, ou acoite
o desamparado menino.
A escuridão tudo cobriu
e o silêncio emergiu
estendendo-se abafador;
foi então que da noite saiu
um grito de raiva e dor
e, numa luz cega, explodiu
cegando tudo ao redor.
J M
As mãos escorriam lustrosas
pelas palavras arredias
tentando domar a realidade cruel
os refugiados entrechocavam
inábeis e férteis os silêncios breves
prolongamento irascível do tempo incapaz
e nos interstícios dos meses
o mediterrâneo sangrento
explodiu em mortes inúteis.
J M
Os espaços embicados da vida
que o tempo amarelo vai carcomendo
deixam restos espalhados pela casa;
(e as ratoeiras vazias
testemunham a esperteza
informática dos ratos)
e os minutos comem as palavras
dos alfarrábios
tornando-as caruncho.
J M
Inócuas mas subsersivas,
as perguntas atiravam-se
à face dos políticos:
as respostas espertas ou "ingénuas"
sempre dirigidas
para não saber o sabor da questão.
Há, porém, perguntas perversas
que exigem respostas prévias,
segurança que à liberdade
não é dado ter.
A liberdade quer-se franca,
frontal e assumida,
opção e arbítrio
num espaço de solidão.
J M