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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Gratidão

Agora que finalmente os exames chegaram ao fim e o ano letivo está quase "extinto", vou partilhar uma surpresa que muito me comoveu. Esta foi especial, mas seria injusto se não referisse outras que não partilho aqui por motivos óbvios! Foi um ano produtivo e que me deixou muitos momentos de alegria com as várias turmas com quem partilhei nove meses de sucessos. É sempre bom e motivador trabalhar com jovens que sabem ser generosos como muitas vezes nós, adultos, já não sabemos ser. Obrigado a todos pelos grandes e pelos pequenos gestos que o "nosso" dia a dia nos deu. Sede felizes!

11º C.jpg

 

Casa deserta - Mário Dionísio (1916)

 
Ah nada pior que a casa deserta,
sozinha, sozinha.

O fogão apagado e tudo sem interesse.
O mundo lá longe, para lá da floresta.
E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta…

Ah nada pior que estes dias e dias,
de cachimbo aceso, com as mãos inertes,
com todas as estradas inteiramente barradas,
ouvindo a floresta.
Com tudo lá longe, na casa deserta,
o vento soprando
e a chuva caindo, na noite caindo…

Há uma cancela que range nos gonzos
um velho cão de guarda que ladra sem motivo-
parece que é gente que vem a entrar…

E é só vento soprando, soprando
e a chuva caindo…

Mudaram muita vez as folhas da floresta.
Os olhos do homem são olhos de doido.
Fogão apagado, aceso o cachimbo, o mundo lá longe.

E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta…

R. I. P.

josemanuelpires2.JPG


Nesta hora em que as palavras faltam para exprimir a dor da perda, meu caro amigo, deixo as palavras do grande poeta que apreciavas com os votos de que descanses em paz na SUA mão direita:

 

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Antero de Quental, in "Sonetos"