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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Pedro Dias de Almeida

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Jornalista

Há uma frase que resume tudo: "As coisas são como são". A mim, muitas vezes, basta-me. O jornalismo existe para revelar, mostrar, desenvolver e explicar essas coisas (que são como são). O jornalismo existe porque às vezes não sabemos bem, ou não sabemos de todo. Mas não tenham dúvidas: as coisas são (sempre) como são. Pedro Dias de Almeida nasceu na Guarda nos idos de março de 1972, estudou comunicação social na FCSH da Universidade Nova de Lisboa e trabalha na VISÃO desde março de 1994. Já escreveu nesta revista milhares e milhares de caracteres em várias secções (sobretudo na cultura). Tem óculos. E é o que é.

[Retirado de VISÃO]

 

Procura-se
 
Breve.
Considero-me desaparecido.
E no vidro desta paragem de autocarro
que nunca vi,
numa cidade que não conheço,
encontro a minha cara
e o meu nome 
numa fotocópia mal tirada.
Procura-se.
Não há notícia de qualquer recompensa.
Nem sequer um número para onde telefonar.
 
(Do livro Poemas e outros poemas)

Revisitação

Hoje fui à Escola da Sé falar de poesia e do meu livro aos alunos de algumas turmas. Acho que as sessões correram bem! Só me resta agradecer às minhas colegas o convite endereçado e a possibilidade de voltar àquelas salas. Um agradecimento especial à Professora Emília Barbeira que promoveu esse regresso. Andei por aqueles corredores e por aquelas salas 13 anos e ficaram por lá amizades e alguns poemas do livro nasceram por lá também.

Obrigado a todos os que me manifestaram a amizade e apoio. (Ficam as fotos possíveis da competente fotógrafa Ana Sofia.)

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Oh as casas as casas as casas!

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Oh as casas as casas as casas

as casas nascem vivem e morrem

Enquanto vivas distinguem-se umas das outras

distinguem-se designadamente pelo cheiro

variam até de sala pra sala

As casas que eu fazia em pequeno

onde estarei eu hoje em pequeno?

Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?

Terei eu casa onde reter tudo isto

ou serei sempre somente esta instabilidade?

As casas essas parecem estáveis

mas são tão frágeis as pobres casas

Oh as casas as casas as casas

mudas testemunhas da vida

elas morrem não só ao ser demolidas

Elas morrem com a morte das pessoas

As casas de fora olham-nos pelas janelas

Não sabem nada de casas os construtores

os senhorios os procuradores

Os ricos vivem nos seus palácios

mas a casa dos pobres é todo o mundo

os pobres sim têm o conhecimento das casas

os pobres esses conhecem tudo

Eu amei as casas os recantos das casas

Visitei casas apalpei casas

Só as casas explicam que exista

uma palavra como intimidade

Sem casas não haveria ruas

as ruas onde passamos pelos outros

mas passamos principalmente por nós

Na casa nasci e hei-de morrer

na casa sofri convivi amei

na casa atravessei as estações

Respirei – ó vida simples problema de respiração

Oh as casas as casas as casas


Ruy Belo,Todos os Poemas

 

A MINHA MÃE

 
 

 

As ilusões semelham-se a um colar
De pérolas alvíssimas, de espuma.
Se o fio que as segura se quebrar,
Caem no chão, dispersas, uma a uma.
 
Caem no chão, dispersas, uma a uma,
Se o fio que as segura se quebrar;
Mas entre tantas sempre fica alguma,
Sempre alguma suspensa há-de ficar.
 
Das minhas ilusões, dos meus afectos,
Longo colar de amores predilectos,
Muitos rolaram já no pó também.
 
Um só dentre eles não cairá jamais:
Aquele que eu mais prezo entre os demais,
— O teu amor santíssimo de mãe.
 
Augusto Gil, Musa Cérula