Como os meus amigos leitores já sabem, finalmente, vai aparecer um livro de poesia. Aqui agradeço publicamente a quem sempre me incentivou. A ocasião surge e a motivação também: os meus pais, a quem devo quem sou, celebram este ano os 100 anos. É uma homenagem esta publicação.
O primeiro contacto com o público será, como é óbvio e lógico, na Livraria da Editora Lua de Marfim, na Amadora no próximo dia 14 de novembro, às quinze horas. Agradeço à editora na pessoa de Paulo Afonso Ramos toda a amabilidade e disponibilidade. Agradeço desde já ao Poeta Cristino Cortes, nosso conterrâneo, a apresentação que fará da obra.
[Na Guarda, a apresentação pública será, no início de Dezembro, na BMEL, em data a divulgar em breve.]
«Não, fica. Fica.» Tornei a sentar-me, relutante. «Acho que, depois do que fizeste, tens direito a estar connosco nos melhores momentos.»
Camila pareceu ficar um pouco mais tímida, ao escutar as palavras do avô. «Tenho receio de o deixar assim, avô. Tenho medo.»
«Medo de que eu morra?», perguntou Millhouse Pascal, a voz saindo-lhe do fundo da garganta.
«Por favor. Ninguém morre de uma fractura na bacia. Não diga essas coisas. Tenho medo de que fique sozinho. O Gustavo já se foi embora, a Nina também.»
«Tens medo da minha solidão, porque temes toda a espécie de solidão. Olha para mim. Tenho mais de setenta anos. A solidão é uma benesse, e não um tormento. Vivi mais vidas do que um batalhão de homens. Para além disso, enquanto tiver o Artur, nunca estarei sozinho.»
«Tem mais do que o Artur, agora», disse Camila, olhando para mim. Millhouse Pascal também me olhou.
«Sim, por agora. Mas as pessoas jovens acabam por seguir as suas vidas. E o curso natural das coisas. Deposito, porém, grandes esperanças neste rapaz. É um rapaz especial.» Falavam de mim como se eu não estivesse ali.
«E tu, estás pronta?»
«Para partir?»
«Para deixares tudo isto para trás.»
«Não fale assim. Virei visitá-lo sempre que possa.»
«Visitares, não visitares... É a mesma coisa, no fundo. Quando deixei este país, pouco mais velho do que tu és agora, ainda desconhecia o efeito que o mundo tem em nós. Partimos de um lugar achando que um dia voltaremos; vivemos tudo de coração aberto; e, quando damos por nós, somos incapazes de regressar.»
«O avô já regressou há muitos anos.»
«Regressei? Será mesmo verdade?»
«Está aqui, não está?»
«A presença física não é prova de nada. O lugar onde vivemos é o lugar que habitamos em espírito. E, em espírito, nunca regressei. Estou espalhado pelas almas de todas as pessoas que conheci, de todas as coisas que, por lhes ter tocado, modifiquei. Irás aprender isso com o tempo. Um homem não é uma entidade, são muitas e, se não nos decidimos, a tempo certo, por uma delas, acabamos feitos em retalhos.»
"Hoje em dia muita gente quer escrever um livro – e eu acrescento: acha que pode. Não discutindo as competências de cada um, a verdade é que o facto de todo o bicho-careta, entre apresentadores de TV e actrizes de telenovela, publicar livros faz com que se pense que escrever não implica talento e o que é preciso é ter uma história para contar (quando o comose conta a história é que, normalmente, faz a diferença). Sei que já falei muitas vezes aqui do tema, mas descobri umas novas dicas importantes. William Boyd, escritor, formula algumas perguntas essenciais aos aspirantes a escritores, que servem, no fundo, para que concluam se, efectivamente, estão habilitados a escrever um livro. E a primeira é justamente «Sabem escrever?», ou seja, se dominam a gramática, não cometem erros, são capazes de se exprimir por escrito de forma a serem entendidos e, claro, conhecem mesmo bem a sua língua; sem isso, meu amigo, de maneira nenhuma se tornarão autores de jeito. «Sabem planificar?» é outra das perguntas, uma vez que a organização da intriga ao longo das páginas de um livro é absolutamente fundamental; não é preciso o plano integral antes de começarem a escrever, mas, à medida que escrevem, têm de saber onde entra o quê sem se espalharem ao comprido. «Têm imaginação?» Ah, pois, há quem julgue que não precisa disto, mas é impossível tornar um episódio credível se o seu autor não o conseguir imaginar, diz o conselheiro. «São suficientemente resistentes?» Sim, Boyd acha que não só escrever um romance implica perseverança, aceitar os momentos menos criativos sem desistir, se calhar cortar páginas e páginas que deram muito trabalho na altura de rever, esperar o tempo que for preciso até o livro estar pronto, mas também que é necessária resistência às críticas depois de o livro sair e ao longo da carreira, porque há na profissão de escritor muitos altos e baixos. Enfim, algumas questões que ajudarão os indecisos a tomar uma decisão em consciência."
Opinião da escritora Mª Rosário Pedreira no seu blogue e com quem concordo!
Foi bonito O meu sonho de amor. Floriram em redor Todos os campos em pousio. Um sol de Abril brilhou em pleno estio, Lavado e promissor. Só que não houve frutos Dessa primavera. A vida disse que era Tarde demais. E que as paixões tardias São ironias Dos deuses desleais.
A noite passada à hora em que a Ursa, mais perto discursa da mão do Boieiro, e o sono profundo no grémio fagueiro por todo esse mundo restaura os mortais, em meio era a noite; o exemplo dos mais no leito eu seguia; sereno dormia… À porta imprevisto Cupido me bate! À pressa me visto; redobra o rebate; acudo a correr. “Sou eu — diz de fora — não tens que temer; sou um pequenino que vaga, a tal hora, molhado e sem tino, perdido no escuro, pois lua não há!” Ouvi-lo gemendo de mágoa me corta; a lâmpada acendo, franqueio-lhe a porta… em casa me está! Descubro (em verdade mentido não tinha) gentil criancinha com arco e carcaz. Remexo nas brasas da minha lareira; restauro a fogueira; as mãos, que são gelo, lhe aqueço nas minhas, lhe espremo o cabelo, lhe enxugo as azinhas; já frio não faz. — “Vejamos se a chuva (dizia e sorria) a corda do arco me não danaria!” Levanta-o do chão; recurva-o, dispara no meu coração. A frecha que o vara parece um tavão. Eu, dores danadas, e o doudo às risadas de gosto a pular! — “Meu caro hospedeiro, (me diz prazenteiro) agora é folgar. Permite me ausente; meu arco está são… Quem fica doente é teu coração!”
Anacreonte (Tradução de António Feliciano de castilho)