Eram, na rua, passos de mulher. Era o meu coração que os soletrava. Era, na jarra, além do malmequer, espectral o espinho de uma rosa brava…
Era, no copo, além do gim, o gelo; além do gelo, a roda de limão… Era a mão de ninguém no meu cabelo. Era a noite mais quente deste verão.
Era no gira-discos, o Martírio de São Sebastião, de Debussy…. Era, na jarra, de repente, um lirio! Era a certeza de ficar sem ti.
Era o ladrar dos cães na vizinhança. Era, na sombra, um choro de criança…
David Mourão-Ferreira , in Infinito Pessoal
Com as polidas cintilações
das ondas eles enredam o mar
e aspam de brancura o voo das gaivotas
Sua íntima atitude
é a das estátuas por fora
Como elas amam sem noções que lhe doam
O céu foi o seu fundo das pupilas
orto da Estrela da Manhã
Mas volvidos são das paisagens rumorosas
onde nem o corpo do vento se suprime.
Sebastião Alba
Espantado meu olhar com teus cabelos
Espantado meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos
Em vão busquei eterna luz precisa Sophia de Mello Breyner