Prémios literários.
Texto publicado na semana passada sobre dois escritores premiados: Mário de Carvalho e Patrick Modiano.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Texto publicado na semana passada sobre dois escritores premiados: Mário de Carvalho e Patrick Modiano.
se alguém disser que morri, avança até à varanda do céu,
escuta a noite e recolhe o meu corpo da espuma dos planetas.
não deixes que o meu rosto se dissolva nas tuas mãos,
insiste no meu nome até que o mar ascenda à tua boca.
e de luar em luar celebra o coração que fiz teu, mudamente,
como se o amor fosse sobreviver às veias paradas de sangue.
Vasco Gato, «Um Mover de Mão»
Deixei a saudade invadir-me as ruas.
Havia vento forte e as rajadas
Traziam com elas gotas de amor
Arrebatadas
Às tranças de uma tempestade
Cujos sentimentos eram o espelho da dor
Da sonolenta e ávida cidade.
Caminhei sem destino
Pelas veredas da emoção
E perdido nos meandros do coração
Dei por mim lacrimejando, o destino
Foi madrasto e arrebatou-me
Aquela doce sensação
De te amar. Secou-me!
A chuva fria e arrepiante
Destes outonos conturbados
Pôs-me a realidade diante
Dos olhos e marejados
Impediram-me a visão
Dessa rua invadida pela saudade.
Caminharei só em plena cidade?
A quem “cantarei de amor tão docemente”?
Abandono a tua imagem à minha mente
E esperarei lutando com tenacidade …
20.10.2014
J M
Hoje um canal de televisão recordou a morte misteriosa deste grande homem que viveu sempre intensamente. Tive o privilégio de o conhecer em Belas onde de cada missa fazia uma festa de alegria, celebração da vida e da fé. Hoje que a Igreja canonizou o Papa do Concílio Vaticano foi oportuna esta recordação, pois o P.e Alberto, nas palavras do cónego Janela, «Foi um homem que viveu intensamente o espírito evangélico e profético» do Concílio Vaticano II (1962-1965), «ele que tinha sido formado numa teologia pré-conciliar. Sabia que pisava um terreno minado mas o padre Alberto era um homem corajoso. Sofreu as consequências de não se ter refugiado na comodidade do clérigo que faz o seu serviço e ponto final. Arriscou e pagou com a própria vida».». O Padre Alberto foi um testemunho vivo de Cristo dos pobres: tudo o que tinha dava a quem precisava.
Era natural do Souto da Casa, concelho do Fundão.
*Fica a ligação para uma homília proferida na capela do Rato em 73 e que está actualíssima. Parece do Papa Francisco.
mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.
lê isto: mãe, amo-te.
eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
Sophia de Mello Breyner Andresen, "Coral"