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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Mãos

As tuas mãos têm veludos

 

suaves, queridos, amaciadores;

 

têm perfumes, aromas, têm tudos,

 

jardins belos de todas as flores;

 

 

 

são rios carinhosos e magos

 

lírios primaveris, cândidas rosas,

 

carícias quentes, ternos afagos,

 

brisas amenas, ternuras formosas.

 

 

 

 

Delas se desprende gracioso odor

 

nas jovens horas de quente amor,

 

nas noites enluaradas da vida;

 

 

 

e, nas horas de tristeza incontida,

 

sai delas maviosa ternura tão querida

 

que me põe no rosto rubicunda cor.

 

JM

...

 (Foto de Vasco Pires)

 

“A POESIA É O MISTÉRIO DE TODAS AS COISAS”

 

     A poesia é inútil, dizem alguns maldispostos e desagradados com a vida. Enganam-se. A poesia é a vida. Está todos os dias ao nosso lado. Partilha os nossos êxitos e as nossas desilusões. Aplaude-nos as alegrias mais leves ou as mais intensas. Reforça-nos o ânimo quando as horas são mais amargas. Caminha connosco cada segundo das 24 horas da plenitude diária. Acama-se quando nos acamamos. Sacia-se quando nos saciamos. Mas também anda esfomeada quando as palavras nos fogem e nos fazem negaças. Só temos de saber dar por ela e aproveitar o que nos oferece.

    A poesia é tudo o que quisermos. É o desejo que faz nascer a esperança. É a esperança que alimenta a vida. É a vida que cada dia nos abraça. É o abraço que nos mima e nos acalenta. É o calor que anima a alma. É a alma que nos faz amar. É o amor que nos faz crescer. É o crescimento que nos amadurece e nos ajuda a suportar a realidade prosaica quando a angústia nos cerca. Mas também é o grito de revolta, a rebeldia que faz avançar o mundo, a ousadia que arrisca a juventude.

     A poesia não é um Dia: são 365 dias de esperança.

 

21.03.2014 JM

INGRATIDÃO

A ingratidão é um vício dos animais

que nunca reconhecem

quanto as pessoas lhe dão.

E, como não têm coração,

facilmente esquecem

os benefícios das virtudes teologais.

 

Já os homens nunca são ingratos.

Esquecidos, transtornados, talvez!,

ignorantes de certos factos

que não convém lembrar,

esperando a sua vez

de conseguir dominar.

 

Tentam sempre espezinhar,

distorcer,

contrariar,

corromper,

mas ingratos, não!

Isso é para os animais

que agem sem coração!

 

Por isso dizia Herculano

que o melhor amigo do humano

é certamente … o cão!

 

 

18.03.2014

JM

“Luna”

Nos raios da lua quase cheia

descem as nostálgicas saudades,

ribeiras de águas cristalinas

inundando o corpo de idades

insuspeitadas, de jaspe e coralinas,

de retumbante e clara ideia.

 

E a prata das saudades infindas

mitiga a sede da água da lua

e deixa projectada em cada rua

as figuras perdidas, leves e lindas

que o amor marcou a fogo

quando imberbe brincou: mago jogo!

 

E ri-se lá do alto, frígida e bela,

a lua, essa louca feiticeira,

refletindo na vidraça da janela

o que ficou imerso no coração

de um quarto crescente: primeira

indelével, rebelde e assimétrica paixão.

 

12.03.2014

JM