Muda-se o ano ...
Texto sobre o que se passou por cá em 2013.
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Texto sobre o que se passou por cá em 2013.
Pensar Portugal. Nós somos um país de «elites», de indivíduos isolados que de repente se põem a ser gente. Nós somos um país de «heróis» à Carlyle, de excepções, de singularidades, que têm tomado às costas o fardo da nossa história. Nós não temos sequer núcleos de grandes homens. Temos só, de longe em longe, um original que se levanta sobre a canalhada e toma à sua conta os destinos do país. A canalhada cobre-os de insultos e de escárnio, como é da sua condição de canalha. Mas depois de mortos, põe-os ao peito por jactância ou simplesmente ignora que tenham existido. Nós não somos um país de vocações comuns, de consciência comum. A que fomos tendo foi-nos dada por empréstimo dos grandes homens para a ocasião. Os nossos populistas é que dizem que não. Mas foi. A independência foi Afonso Henriques, mas sem patriotismo que ainda não existia. Aljubarrota foi Nuno Álvares. Os descobrimentos foi o Infante, mas porque o negócio era bom. O Iluminismo foi Verney e alguns outros, para ser deles todos só Pombal. O liberalismo foi Mouzinho e a França. A reacção foi Salazar. O comunismo é o Cunhal. Quanto à sarrabulhada é que é uma data deles. Entre os originais e a colectividade há o vazio. O segredo da nossa História está em que o povo não existe. Mas existindo os outros por ele, a História vai-se fazendo mais ou menos a horas. Mas quando ele existe pelos outros, é o caos e o sarrabulho. Não há por aí um original para servir?
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 2'
Ando há dias na periferia.
De quê? Na periferia.
Talvez a pusesse a rimar com alegria
mas a verdade é que não:
nem com alegria, nem com coração.
Também podia rimar com azia!
Aí sim já havia forte sintonia.
O pior era a posterior indigestão.
E se rimasse com chuva ou neve?
A sensação seria muito breve:
ou molhava ou a neve se desfazia.
Afinal com que rima periferia?
Depende. Se for minha, com desilusão.
Se for dos outros, com perdição.
27.01.2014
JM
Deito-me no rio do tempo
E vogo ao sabor das sensações.
Deixo-me ir na corrente
Navego sem destino nem razões
Perfaço dias de ternura
Antes de ter a exacta noção
De que a vida é madraça
E nos rouba o que é perfeito
… o perfeito coração.
SEM TI
E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.
Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.
EUGÉNIO DE ANDRADE, "Chuva sobre o rosto"
Perguntas-me porque escrevo
e fico sem saber
se devo
ou não responder.
Escrevo porque a vida me dá temas
sugestões
e motivações
e assim surgem os poemas.
Uns escorreitos
como os dias de sol
outros imperfeitos.
Nem sempre somos o girassol!
Afinal a vida também é assim:
faz-nos sonhar
mas logo nos faz chorar:
Pelo menos para mim!
18.01.2014
JM
Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga, in 'Odes'
Há mulheres que cheiram a terra
e a maternidade.
Há outras que cheiram a serra
e a fecundidade.
Há as que misturam a argila
com o rosmaninho.
Há as que fecundam a vida
com um simples carinho.
16.01.2014
JM
Estou perdido no labirinto
que construí em mim mesmo,
agora já nem sei o que sinto
vou usando palavras a esmo.
Às vezes não fazem sentido
outras até parecem belas
mas com isto de andar perdido
só saem mesmo é balelas.
Por isso o melhor é calar
e reflectir mais na vida.
Perde-se muito em falar
sem uma ideia definida.
15.01.2014
JM
Depois da euforia
vem a frustração,
ou a simples acalmia
da humana condição.
É sempre ou quase
mais ou menos assim:
primeiro o êxtase,
depois um breve fim.
E deste modo vivemos
em constante sobressalto,
quanto mais alto subimos
mais comprido é o salto.
O infinito procuramos,
queremos a perfeição.
Afinal só a encontramos
dentro do nosso coração.
13.01.2013
JM
(Ao gosto popular!)