No entardecer da terra O sopro do longo Outono Amareleceu o chão. Um vago vento erra, Como um sonho mau num sono, Na lívida solidão.
Soergue as folhas, e pousa As folhas, e volve, e revolve, E esvai-se inda outra vez. Mas a folha não repousa, O vento lívido volve E expira na lividez.
Eu já não não sou quem era; O que eu sonhei, morri-o; E até do que hoje sou Amanhã direi, quem dera Volver a sê-lo!... Mais frio O vento vago voltou.
Não, nem no sonho a perfeição sonhada Existe, pois que é sonho. Ó Natureza, Tão monotonamente renovada, Que cura dás a esta tristeza? O esquecimento temporário, a estrada Por engano tomada, O meditar na ponte na incerteza...
Inúteis dias que consumo lentos No esforço de pensar na ação, Sozinho com meus frios pensamentos Nem com uma 'sperança mão em mão.
É talvez nobre ao coração Este vazio ser que anseia o mundo, Este prolixo ser que anseia em vão, Exânime e profundo
Tanta grandeza que em si mesma é morta! Tanta nobreza inútil de ânsia e dor! Nem se ergue a mão para a fechada porta, Nem o submisso olhar para o amor.