Relendo V. Ferreira
Às vezes é preciso reler. Nessa releitura há coisas novas a descobrir e outras a reescrever.
Aqui fica uma reescrita de "Manhã Submersa" e "Estrela Polar". Excertos claro!
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Às vezes é preciso reler. Nessa releitura há coisas novas a descobrir e outras a reescrever.
Aqui fica uma reescrita de "Manhã Submersa" e "Estrela Polar". Excertos claro!
Há 25 anos não havia trovoada, nem condições para existir, mas a notícia caiu em nós com os efeitos dramáticos da perda. O teu coração parava, depois de uma luta persistente. Deixava-nos a tua essência de pai, orientador da família, de nós. O teu espírito permanece connosco, hoje à distância destes tempos vividos. Continuas vivo porque te lembramos, porque estás em nós, porque estás connosco. Ainda. Enquanto houver memória.
Hoje, quase à beira do fim de um maio específico
fico à espera que a noite te devolva a vida
roubada num dia final como hoje.
Busco em mim as memórias de ti
e vejo-te
no tempo da aldeia
dominante no espírito honesto
de quem doma a terra
dando exemplos pelo exemplo.
Anoiteceste um dia como hoje.
As memórias de ti espalharam-se
pelos espaços que ainda são teus:
a casa, o chão, os cômaros,
os lameiros, os pinhais, ...
sei lá, os espaços marcados
pela tua ternura paterna.
A lua continua lá, mas já não é a mesma.
E a noite opaca revive-te apenas na memória dos gestos.
Fazes-nos falta!
JM - 31.05.2012
Já que estamos numa de vaidade pessoal - faz bem à auto-estima! - aqui fica mais uma com Manuel António Pina. A contar mais uma das suas muitas histórias.
(Foto cedida pelo NAC)
Na BMEL com o escritor no dia em que veio à Guarda receber o Prémio Eduardo Lourenço.
Foi um prazer ouvi-lo falar com muita simplicidade aos alunos do secundário.
(A foto é uma gentileza da BMEL.)
Parece que aqui o escriba está a internacionalizar-se! Um texto escrito para a Praça Velha sobre o livro "A espuma dos dias úteis" do nosso conterrâneo Cristno Cortes foi publicado na revista internacional de teatro e poesia "ALHUCEMA". (Pode ser lido aqui a páginas 145/146.)
Obrigado ao poeta Cristino Cortes pela indicação.
Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
Finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
Tentaris numeros. Ut melius quidquid erit pati!
Seu plures hiemes, seu tribuit Jupiter ultimam,
Quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum, sapias, vina liques et spatio brevi
Spem longam reseces. Dum loquimur, fugerit invida
Aetas: carpe diem, quam minimum credula postero.
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Ó Leuconoe, não procures saber, é proibido fazê-lo, que destino
quer a ti quer a mim concederam os deuses, e não deites à sorte
os dados babilónicos. Quanto melhor não é sofrer aquilo que vier!
Quer Júpiter te conceda vários invernos, quer seja este o último,
o que agora desgasta as rochas esponjosas do Tirreno.
Sê sábia, depura os vinhos e não ponhas longa esperança
num breve tempo. Enquanto falamos a invejosa idade
já nos terá roubado: colhe o momento, acreditando minimamente no amanhã.
(Tradução minha, não literal!)
Quintus Horatius Flaccus (Venúsia, 65 a.C. — Roma, 8 a.C.)
Dos tempos da meninice
vêm-me os aromas a terra das tuas mãos
dos tempos da meninice
vem-me a cor dos teus olhos pagãos
esses aromas, essa cor
recordam-me as carícias ásperas dos calos
as meiguices desse amor
com os sons mecânicos dos grilos e ralos
e a tua voz cansada
sobrepunha-se à cegarrega martirizante
e a tua protecção
dava uma sensação tão terna e calmante
mas onde encontrar
tudo isto junto em alguém?
... no teu coração, ó Mãe!
JM
Texto de jornal sobre Torga e inspirado no espectáculo "Fragas" de Gambozinos e Peobardos.