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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

In Memoriam -1995 / 2020

Há 25 anos não havia trovoada, nem condições para existir, mas a notícia caiu em nós com os efeitos dramáticos da perda. O teu coração parava, depois de uma luta persistente. Deixava-nos a tua essência de pai, orientador da família, de nós. O teu espírito permanece connosco, hoje à distância destes tempos vividos. Continuas vivo porque te lembramos, porque estás em nós, porque estás connosco. Ainda. Enquanto houver memória. 

 

Hoje, quase à beira do fim de um maio específico

fico à espera que a noite te devolva a vida

roubada num dia final como hoje.

 

Busco em mim as memórias de ti

e vejo-te 

no tempo da aldeia

dominante no espírito honesto

de quem doma a terra

dando exemplos pelo exemplo.

 

Anoiteceste um dia como hoje.

 

As memórias de ti espalharam-se 

pelos espaços que ainda são teus:

a casa, o chão, os cômaros,

os lameiros, os pinhais, ...

sei lá, os espaços marcados

pela tua ternura paterna.

 

A lua continua lá, mas já não é a mesma.

E a noite opaca revive-te apenas na memória dos gestos.

 

Fazes-nos falta!

 

JM - 31.05.2012

Horácio (Ode I, XI)

 

Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi

Finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios

Tentaris numeros. Ut melius quidquid erit pati!

Seu plures hiemes, seu tribuit Jupiter ultimam,

Quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare

Tyrrhenum, sapias, vina liques et spatio brevi

Spem longam reseces. Dum loquimur, fugerit invida

Aetas: carpe diem, quam minimum credula postero.

 

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Ó Leuconoe, não procures saber, é proibido fazê-lo, que destino 

quer a ti quer a mim concederam os deuses, e não deites à sorte 

os dados babilónicos. Quanto melhor não é sofrer aquilo que vier!

Quer Júpiter te conceda vários invernos, quer seja este o último,

o que agora desgasta as rochas esponjosas do Tirreno.

Sê sábia, depura os vinhos e não ponhas longa esperança

num breve tempo. Enquanto falamos a invejosa idade 

já nos terá roubado: colhe o momento, acreditando minimamente no amanhã.

 

(Tradução minha, não literal!)

 

 

Quintus Horatius Flaccus (Venúsia, 65 a.C. — Roma, 8 a.C.)

De quem?

Dos tempos da meninice

vêm-me os aromas a terra das tuas mãos

dos tempos da meninice

vem-me a cor dos teus olhos pagãos

 

esses aromas, essa cor

recordam-me as carícias ásperas dos calos

as meiguices desse amor

com os sons mecânicos dos grilos e ralos

 

e a tua voz cansada

sobrepunha-se à cegarrega martirizante

e a tua protecção

dava uma sensação tão terna e calmante

 

mas onde encontrar

tudo isto junto em alguém?

 

... no teu coração, ó Mãe!

 

JM

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