Auto-estima guardense
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"E o vencedor do Prémio Café Mondego 2011 é António José Dias de Almeida, professor aposentado, estudioso da literatura, militante cultural e homem de um coração imenso. Ele está, há décadas, sempre "presente" em tudo o que tenha a ver com letras, artes e cultura. A sua disponibilidade para colaborar é muito grande e conhecida na cidade. Para além do mais é um cidadão activo e empenhado. Para mim é uma das referências (poucas) que tenho a cidade. Por isso fico muito satisfeito por ter sido ele o premiado, mesmo que este prémio valha, apenas, para dizer a António J. Dias de Almeida de que gostamos muito dele.
O júri do prémio foi constituído por Daniel Rocha (professor, poeta e bombeiro), Márcio Fonseca (informático e bloguer), Vasco Queiroz (médico), Hélder Sequeira (historiador e jornalista), Helena Neves (cantora e professora), Pires Veiga (professor aposentado), Élia Fernandes (professora), Agostinho Silva (professor e designer), José Monteiro (professor e poeta), Igor Costa (jornalista), Aires Dinis (professor e escritor) e eu próprio.
Como se sabe, foram recebidas várias sugestões de leitores. Também, a meu convite, mais de uma dúzia de personalidades indicaram aqueles que, na sua opinião, mereciam reconhecimento público. A lista final era constituída por 30 candidatos, o que mostra a riqueza humana que a Guarda tem. António J. Dias de Almeida foi o mais votado pelos membros do júri.
A Guarda não costuma reconhecer o mérito dos cidadãos. Este é o único prémio da Guarda que pretende agradecer o trabalho de alguém. O prémio não é pecuniário nem institucional. Mas é verdadeiro, simples e despretensioso.
Obrigado, António José Dias de Almeida!"
[http://cafe-mondego.blogspot.com/2012/01/premio-cafe-mondego-2011-antonio-jose.html]
[As palavras do Dr. Américo dizem tudo o que penso desta figura da nossa cidade. E se acaso elas pecam é por defeito: é a pessoa mais culta da Guarda, é uma pessoa discreta e simples que não gosta de exibir a sua sabedoria, mas é um "filósofo" no sentido radical da palavra grega. A cidade tem o dever de mostrar reconhecimento a este CIDADÃO.]
Acordei um dia dentro dos teus olhos
de um sono leve e tranquilo, tumultuoso e denso.
Dizem que devo ter sonhado, mas nem ecos
de palavras, franjas de luz, neblina,
vaga escadaria, túnel infinito
me chegam aos recantos da memória.
Acordei a amar-te dentro dos teus olhos,
a hora indefinida,
em silêncio, deslumbrado.
Só depois veio o sonho
Mário Domingos "O Despertar dos Verbos"
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga
Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário
Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar pra aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
pra receber daquilo que aumenta o coração.
Mafalda Veiga - 1987
Há pessoas que amam
Com os dedos todos sobre a mesa.
Aquecem o pão com o suor do rosto
E quando as perdemos estão sempre
Ao nosso lado.
Por enquanto não nos tocam:
A lua encontra o pão caiado que comemos
Enquanto o riso das promessas destila
Na solidão da erva.
Estas pessoas são o chão
Onde erguemos o sol que nos falhou os dedos
E pôs um fruto negro no lugar do coração.
Estas pessoas são o chão
Que não precisa de voar.
Tu sabes bem, que o amor se perdeu
Não o faças refém, foi meu e teu
Foi o que foi, o que nós deixámos
Inocentes os dois, culpados ficámos.
A lágrima caiu, sem tu saberes
Por ti caiu, a última vez.
A flor da saudade, que nasce selvagem
Daninha se espalha, por toda a paisagem
Por todos os locais, em todos os cheiros
Há histórias reais, de um cativeiro.
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga, Cântico do Homem
As cotovias mandaram chamar a Palavra
e disseram-lhe: Gostaríamos de voar contigo!
Por quê?, disse a Palavra, se podeis livremente voar
no azul do céu, sobre o mar, e também sobre bosques e searas,
poisar até no cume frio das altíssimas montanhas.
Pois sim, concordou uma delas, mas como faremos
para voar, como tu, até ao coração do homem?
E, a todas, a palavra respondeu: Não, amigas, não sou eu
que voo até ele! É o seu coração que sempre me procura
para oferecer-me a capacidade e a alegria de voar
para lá do azul do céu e para lá da imensidão do mar,
muito para além dos bosques, das searas,
e mais alto, ainda mais alto que o cume frio
das montanhas. Sem nunca chegar ao fim
de nada, mas ao início
de tudo.
Do livro GUARDAR O FOGO, a publicar.
Preciso de uma mão amiga
estendida na amarga solidão
que me passe os dedos carinhosos
por minha alma em fadiga
sequiosa de afeição
e doutros bens preciosos.
Preciso das tuas palavras
envoltas em doçuras sem ironia
com recheio de chocolate
daquelas que tu lavras
na lua cheia do dia
em que o sol nunca bate.
Preciso da tua amizade
sem peias nem atilhos
baseada na compreensão,
na entrega, na felicidade,
que os pais outorgam aos filhos
do fundo do coração.
JM